Paula Panarra é diretora-geral da Microsoft Portugal.
No início de junho, numa sessão que partilhei com Rui Nabeiro, CEO da Delta Cafés, tive o prazer de marcar o lançamento da edição portuguesa do livro Faça Refresh, de Satya Nadella, CEO da Microsoft Corporation – o livro, no qual o líder da nossa organização partilha os seus processos mentais nesta jornada de transformação pela qual a Microsoft passou sob a sua liderança – levou-me a repensar noções de liderança e da cultura da organização que lidero.
Para Satya, como para mim, o “C” em “CEO” significa o curador da cultura da empresa. À semelhança do que acontece quando uma organização inicia o seu processo de transformação digital – com a decisão de investimento a vir das equipas de direção ou administração -, também numa jornada de transformação cultural o decisor maior da empresa tem de estar pessoalmente investido.
Neste caminho há três peças fulcrais: conceito, capacidade, e cultura. Para que qualquer organização seja bem-sucedida, há que criar uma ideia ou um conceito. Depois, criam-se capacidades em torno dela – aquilo que a acelera. No final, é a cultura a base que suporta tudo. Assim, se algo acontecer e a ideia não for eficaz, a cultura – se sólida – ajudará a suportar um novo conjunto de competências renovando o potencial da organização; não sendo, a empresa torna-se crescentemente menos relevante porque estava ancorada numa única ideia que caiu por terra.
Parece simples, mas o desafio é viver diariamente uma cultura sólida, numa organização multidisciplinar, inclusiva e justa.
Na Microsoft, vivemos o princípio do growth mindset: só ele garante que a cultura certa suporta novas ideias e novas competências à medida que estas surgem – seja o potencial tremendo e crescente da Cloud, seja a ética no uso da inteligência artificial, seja o imperativo da segurança num mundo crescentemente digital. Sejam quais forem os desafios que a mais entusiasmante vaga tecnológica com a qual alguma vez nos deparámos nos apresente, a cultura de uma organização vai acrescentar, vai suportar, vai dar corpo. O que não fará é opor-se a ela ou combatê-la.
Talvez por isso a frase de Satya Nadella – “não respeitamos a tradição, só respeitamos a inovação” – me diga tanto. E isto pode parecer um contrassenso, porque tipicamente associamos cultura a tradição, mas essa perceção estará, por ventura, desajustada. Cultura pode ser gestão da disrupção.
Porque os próximos meses são de reentré para muitas equipas, em muitas organizações, importa que nos questionemos sobre se estaremos a dar às nossas equipas as ferramentas necessárias para que estas estejam alinhadas com o ADN cultural da organização, se a embebem diariamente nas suas atividades, e quão comprometidos estão com o potencial que o futuro nos traz. Porque numa organização com uma cultura forte, todos podemos fazer acontecer, temos toda a autoridade!
* Este artigo de opinião foi originalmente publicado na edição de agosto de 2018 da revista Insider