Há uma corrida ao 5G. Os operadores querem ter a tecnologia o mais depressa possível, as empresas querem começar a testar novos serviços graças a ele e os consumidores querem ver se as promessas se cumprem. O que é, em que ponto está e para que serve o 5G, entre polémicas EUA-China. O futuro chega em 2020.
O que melhora na conetividade
O 5G é muito mais do que se viu com a passagem de 3G para 4G. As redes super rápidas de quinta geração (com frequências de 28 GHz ou superiores) vão estar no centro das sociedades e economias dos próximos anos, tornando-se no modo preferencial de ligar biliões de objetos e sistemas, incluindo os aparelhos eletrónicos que temos em casa (na chamada Internet das Coisas, IoT). Em muitas casas, a eficácia e rapidez da rede 5G vai relegar o Wi-Fi para segundo plano, tornando-se o 5G o acesso preferido. A promessa é que as velocidades de download e uso de internet móvel sejam 10 a 20 vezes mais rápidas do que o 5G atual – a Qualcomm, especialista em conetividade, diz que consegue 100 Gb de velocidade de download, permitindo descarregar um filme 4K de 100 Gb em apenas 8 segundos.
O potencial nas cidades, mobilidade e saúde
Num mundo com 5G, pela primeira vez haverá uma rede capaz de conetar um número ilimitado de aparelhos e tratar as quantidades impressionantes de dados vindos de cada um deles – essa gestão dos dados permite usar dados analíticos e inteligência artificial para tornar os serviços mais eficazes. A rapidez e ausência de latência – ou seja, as redes têm internet de qualidade garantida em todas as alturas -, trazem uma confiança que dá alimento aos carros autónomos ligados uns aos outros (um veículo pode alertar outro que vem numa outra rua da sua chegada, evitando um acidente). Além de prometer mais eficiência na agricultura de precisão, a chamada telesaúde promete arrancar, com a possibilidade de se fazerem operações à distância e sem riscos. A União Europeia estima benefícios com a introdução do 5G em indústrias como automóvel, saúde, transporte e energia, de 114 mil milhões de euros por ano. A tecnologia promete ser o catalizador para os muitos sensores usados para gerir cidades inteligentes se tornarem cada vez mais generalizados e fiáveis.
Um dos exemplos mais recentes do uso do 5G foram as Olímpiadas de Inverno, na Coreia do Sul, onde se usou antenas 5G para transmitir eventos ao vivo em ecrãs gigantes em autocarros, ou aparelhos conetados para impedir que javalis selvagens de aproximassem das zonas das Olímpiadas (alguns imitavam o rosnar de tigres).
Porque está o EUA contra o 5G ‘made by’ Huawei
Os Estados Unidos têm chamado a atenção do mundo ocidental para os alegados perigos dos operadores usarem na sua infraestrutura 5G produtos de fabricantes chineses, em especial, a Huawei e a ZTE. O argumento utilizado para convencer vários países europeus, o Reino Unido, entre outros países ocidentais, tem sido sempre o mesmo e foi explicado às autoridades portuguesas em fevereiro, pelo próprio chairman do FCC (autoridade Federal de Comunicações dos EUA), Ajit Pai. Em causa está uma lei nacional chinesa de informações, de 2017, que obriga qualquer indivíduo ou entidade chinesa a cooperar com os serviços de informações do país”. Práticas que os EUA dizem que podem pôr em causa a segurança de redes de segurança de outros países.
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Tempo de implementação (quem lidera a corrida)
A China, Japão e Coreia do Sul lideram a corrida ao 5G em investimento na sua nova infraestrutura (dados da Deloitte), mas os EUA estão a tentar aproximar-se através das operadores AT&T e T-Mobile (querem ter 5G em 10 cidades já este ano), que têm estado a comprar antenas para aumentar a escala do 5G do país – Donald Trump garante que quer que os EUA liderem a implementação tecnologia. Mas a China tem um orçamento de 400 mil milhões de dólares para crescer o 5G no país nos próximos cinco anos. Especialistas indicam que o 5G requer quatro vezes mais antenas do que o 4G atual, daí o investimento ser mais significativo. O CEO da Ericsson, Borje Ekholm, que fornece equipamentos para vários operadores europeus, incluindo a Vodafone Portugal, garantia já este ano que falta de investimento e regulação burocrática e não os receios com equipamentos chineses podem atrasar a Europa no 5G.
Portugal (e Europa), afetados no conflito político
O Reino Unido tem feito análises aos produtos chineses para as suas redes, ainda sem conclusões definitivas sobre os produtos da Huawei, e a Europa prepara-se para fazer o mesmo, perante as ameaças dos EUA. A União Europeia aprovou a 12 de março a criação de um Regulamento de Cibersegurança, feito até final do ano, para certificar redes 5G e equipamentos. Portugal ouviu os EUA, mas não tomou uma decisão oficial, não excluindo para já a Huawei que até já tem um acordo com a Altice. Só a partir de 2020 é que devem surgir as primeiras ofertas comerciais de 5G na Europa. A Huawei garante são tudo acusações políticas e que não só não tem sistemas de espionagem nos seus produtos, como nunca cederia informação ao governo chinês e pede análises sérias.
Ponto de situação em Portugal
A Vodafone Portugal (usando aparelhos Ericsson) colocou já em março a primeira antena 5G do país, na sua sede, em Lisboa. Para já será só para testes feitos por empresas e universidades parceiras. A Altice está a desenvolver a sua rede 5G em Portugal em parceria com a Huawei e a NOS tem trabalhado com a Nokia, todos com o objetivo de terem produtos comerciais em 2020. Aveiro (com apoio da Altice Labs) é uma das 22 cidades europeias onde começa, este ano, a decorrer um teste piloto (STEAM City) com uso de antenas 5G.
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