Comecemos pela ideia mais simples, a das caixas-mistério que podem ser adquiridas facilmente através da Internet. O caso mais conhecido é o da caixa criada pela Loot Crate, em 2012, virada para um público mais geek: através de uma subscrição, é possível receber uma caixa, sem saber o conteúdo que lá pode vir dentro. O factor surpresa e o facto de não se saber se será um objeto digno para aumentar uma possível coleção dá um carácter extra à coisa.
No caso da Loot Crate, é possível escolher se quer uma caixa de anime, super-heróis, gaming… Além disto, ainda há a promessa de produtos exclusivos, criados especificamente para este tipo de público.
Rapidamente, a moda das caixas de subscrição começou a espalhar-se a outros negócios: hoje em dia já é possível ter acesso a caixas de subscrição de roupa, livros, meias, vinho, produtos de beleza e muito mais.
No caso das caixas-mistério adquiridas através da Dark Web, conhecida como o mercado negro e nefasto da Internet, tudo ganha contornos fora do padrão. Tem vindo a tornar-se uma moda entre os youtubers, conforme refere o site Shortlist.
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Há vários documentários sobre o assunto, como é o caso de ‘Dark Net‘, do Showtime. Sendo que não está assim tão acessível ao utilizador comum, a Dark Web é um lugar onde se torna possível encontrar tudo, desde drogas até assassinos contratados. Daí que estas caixas-mistérios criam tanta curiosidade entre o público – um dos youtubers, ImJayStation, tem mais de um milhão de visualizações no vídeo onde mostra o que é que recebeu com uma caixa comprada na Dark Web.
Os valores para receber algo que pode ir desde um cartão de aniversário para uma criança, uma chave-de-fendas ensanguentada, ou até a iPads funcionais são altos – há quem tenha gasto 250 libras (perto de 280 euros), como foi o caso do youtuber Jude Somers. O vídeo onde mostra o conteúdo da caixa já foi visto mais de cinco milhões de vezes.
Como seria de esperar, claro que há algum cepticismo por parte de quem vê estes vídeos, referindo que muitos deles parecem encenados, alertando também para a falta de segurança dos youtubers ao mexerem em caixas que podem estar contaminadas com substâncias desconhecidas.
Jonathan Pace, PHD da Universidade de Stanford, refere ao Shortlist que esta “atividade do mercado negro é perigosa”, já que nada na Dark Web é regulamentado, acrescentando também que poderá ser uma forma de transportar armas defeituosas ou drogas, dissimuladas em objetos aparentemente inofensivos.
Este artigo foi originalmente publicado na edição de 30 de julho de 2018 do Diário de Notícias