Conselheiro de Trump sugeriu à Microsoft que espiasse governos de outros países

Brad Smith, no palco da Web Summit, no ano passado. (Filipe Amorim/Global Imagens)

Um conselheiro de Donald Trump terá pedido à Microsoft para fazer espionagem em nome dos EUA. A revelação é feita por Brad Smith, no seu novo livro.

“Como uma empresa americana, por que razão é que não aceitam ajudar o governo dos Estados Unidos a espiar pessoas de outros países?”, terá perguntado um conselheiro de Donald Trump ao presidente da Microsoft. No novo livro, com o título Tools and Weapons – The Promise and the Peril of the Digital Age”, Brad Smith, presidente da Microsoft, faz esta revelação, indica o site Geek Wire.

Brad Smith não identifica o conselheiro, mas recorda que a pergunta aconteceu durante uma viagem a Washington D.C, nos Estados Unidos. Smith sublinha que fez questão de mostrar ao conselheiro de Trump que “o assunto não estava aberto a discussão”, tendo recusado prontamente a sugestão.

“Apontei que a Trump Hotels tinha inaugurado uma nova propriedade no Médio Oriente e também na Pennsylvania Avenue [avenida onde se situa a Casa Branca]. ‘Esses hotéis também vão espiar as pessoas de outros países que fiquem lá? Não me parece muito bom para o negócio da família’”, terá sido a resposta irónica de Brad Smith.

Smith aproveita a interação para mostrar que há sérias questões éticas e políticas em jogo na relação entre as tecnológicas e os governos – especialmente tendo em conta a crispação entre os Estados Unidos e a Huawei.

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“Como é que os governos podem regular a tecnologia que é maior do que eles?”, questiona Brad Smith. O presidente da Microsoft avisa que é necessário entrar numa era de cooperação, que inclua tanto o mundo da tecnologia como os governos.

No livro, que foi lançado esta semana nos Estados Unidos, Brad Smith sublinha que é necessário que, tanto a indústria como os líderes mundiais, estejam atentos e tomem medidas relativamente a temas que possam ter um impacto no futuro. Na lista de temas estão a inteligência artificial, privacidade dos consumidores e dados pessoais. Não fica também esquecida a espionagem internacional ou a ciberguerra.

Smith não é propriamente um estranho a comentar o impacto do mundo tecnológico nas relações internacionais e na “paz digital”. No ano passado, quando esteve na Web Summit, já tinha pedido colaboração entre governos, para proteger os cidadãos.

Brad Smith, presidente da Microsoft, está novamente na lista de oradores da Web Summit, que este ano decorre de 4 a 7 de novembro.

“Se queremos que este século seja melhor, precisamos de fazer melhor”