Chama-se iRobot Genius e é um sistema que traz inteligência e novos recursos aos aspiradores-robô da iRobot. O CEO da empresa explica-nos o que muda.
“Roomba, aspira à frente do sofá”. Um comando de voz para um aspirador robô (com a ajuda de uma app interativa e com sugestões de melhor limpeza para a casa de cada um – onde o nível de alergias lá fora naquela altura do ano faz parte da equação) é o que basta para demonstrar boa parte das novas funcionalidade que a iRobot está a incluir nos seus já famosos robôs de limpeza. “É um novo cérebro”, diz-nos o CEO Colin Angle.
A nova plataforma é gratuita, chama-se iRobot Genius Home Intelligence e já está disponível para atualização (através da app) mesmo em Portugal para todos os aspiradores-robô da empresa conetados – quase todos, nesta altura.
Desde a capacidade de falar com o aspirador-robô, à possibilidade de pedir limpeza de áreas específicas dentro de casa ou definir áreas proibidas, até à capacidade de aprender e dar sugestões úteis para uma limpeza sem intervenção humana cada vez mais eficaz. A iRobot garante que o lançamento desta semana “é um dos mais importantes nos 30 anos da empresa e uma das mudanças estratégicas mais significativas”.
“É a primeira vez que um lançamento importante para a empresa não é produto físico, mas sim software”, explica-nos numa mesa redonda em que estivemos o seu fundador e CEO, o investigador do MIT Colin Angle. O iRobot Genius é apresentado como uma plataforma de última geração para os aspiradores robô que permite aos utilizadores terem um maior controlo de onde, quando e como os seus robôs limpam.
Angle explica que as novidades e melhorias vão acontecer, como o novo lançamento, a cada seis meses, tornando os seus aspiradores-robôs muito semelhantes aos smartphones, com melhorias de software frequentes que trazem novas funcionalidades em atualizações de sistema operativo – algo que a Tesla também implementou já nos seus carros.
Personalização: limpezas favoritas
A app da iRobot foi renovada e além de incluir as tais sugestões de melhores práticas de limpeza consoante a altura do ano e do sítio onde vivemos, permite agora integração total dentro da app com outros dispositivos inteligentes na casa – desde as luzes, termóstatos, portas de entrada, câmaras e afins, bem como com os assistentes digitais da Google ou Alexa – falta a Siri da Apple. “No caso de um sistema de segurança conetado, a Roomba pode ficar a saber quando saímos de casa, para que possa começar a limpeza nessa altura, sem incomodar”, explica o CEO da empresa.
O novo centro de comando que funciona para a popular Roomba, mas também para a esfregona-robô Braava, permite levar em consideração agora preferências por tipo de limpeza, horários preferidos (ele próprio, mediante os padrões que recolhe, sugere as horas que costumamos preferir) e zonas de maior necessidade de limpeza, as Precision Clean Zone. Ao ponto de se poder selecionar mesmo por comando de voz zonas como a parte da frente do sofá da sala, ou por baixo da mesa de jantar, para uma limpeza rápida e imediata só na zona pretendida.
Mesmo não havendo a opção ao estilo joystick – Colin Angle explica que o robô ia demorar mais tempo a chegar à zona pretendida e perder eficácia -, os comandos de voz permitem enviar a Roomba para onde se pretende, bem como pedir que evite por exemplo zonas com muitos fios.
A personalização permite ainda ter comandos para alturas do dia. Os favoritos podem estar definidos para limpeza Depois do Jantar, Hora de dormir, com programação das zonas que devem ser aspiradas com esse comando.
6,9 milhões de robôs conetados
Apesar de ser apontada como uma marca de produtos mais premium, há muito que a iRobot começou a ter gamas mais acessíveis a rondar os 100 euros, aproveitando modelos mais antigos. O crescimento da empresa que nasceu na Califórnia em 1990 “para criar robôs e fazer deles uma realidade” mesmo para as casas de cada um foi exponencial nos últimos anos. Em 30 anos já venderam mais de 30 milhões de robôs, a maioria na última década.
Já têm mais de 6,9 milhões de robôs a nível mundial conetados (que permite que possam evoluir e melhorar com upgrades) e 1,9 milhões desses robôs foram vendidos nos últimos seis meses. Superaram os 1,2 mil milhões de dólares de receitas em 2019 e são o número 1 mundial em robôs de consumo – com 67,1% de share em aspiradores-robôs.
Na Europa os números também são impressionantes, com mais de um milhão de robôs vendidos na Alemanha, Espanha, França e Itália em apenas 12 meses. Embora não revelem números de Portugal, o país é um dos líderes em adopção dos produtos da iRobot. Entre 2012 e 2019 cresceram 22%, algo que deve crescer com a entrada no mercado chinês.
“Impacientes para que a Roomba faça ainda mais”
Colin Angle, que continua ligado ao MIT embora lidere a iRobot, admite que os primeiros 16 anos da empresa foram mais difíceis. “As pessoas eram cépticas sobre se isto era mesmo real. Ter robôs a limpar a casa por nós parecia impossível e continuamos a lutar com o cepticismo mostrando que resulta e faz a diferença”, diz-nos, admitindo que houve muitos que “passaram de cépticos a impacientes para que a Roomba faça ainda mais coisas”.
O responsável admite ainda que uma maior autonomia sem necessidade de intervenção humana durante meses, como se viu com o lançamento do ano passado Roomba i7+ em que o próprio robô limpa o seu depósito interno de sujidade, não significa mais inteligência. Daí o lançamento agora da plataforma Genius, que é para melhorar e atualizar. “Autonomia é o nível básico da inteligência, agora estamos a dar mais controlo ao utilizador para que possa dizer ao robô onde, quando e como deve limpar, de forma a que ele se possa adaptar a nós e aos nossos hábitos.
Os robôs do futuro
A pensar em negócios futuros, Colin admite que é possível que novos serviços incluídos em atualizações no futuro possam ser comercializadas, mas “a ideia é ter sempre esta base com inteligência artificial que não é paga, mas sim para que o robô aprenda o que as pessoas gostam e fique mais inteligente”.
No futuro será possível acrescentar novos sensores aos aspiradores robô, para que reconheça melhor cabos ou outros objetos que não são para aspirar. Sobre segurança e privacidade, Angle garante que tem sido prioridade, daí que desde o primeiro dia que cumprem o regulamento europeu RGPD e nunca venderam os dados anónimos dos robôs dos clientes. “Os códigos e toda a arquitetura é encriptada, mesmo quando utilizamos a cloud para receber os dados para melhorar os robôs e tratam-se de dados básicos, como por exemplo, aqui é a cozinha”, explica.
O potencial de trazer outro tipos de ajuda podem deixar de ser só no chão das casas, já que a estratégia a longo prazo será introduzir maior interação com o utilizador. Sem querer revelar os projetos mais arrojados em que estão a trabalhar, o fundador da iRobot não excluiu a hipótese que demos de existirem roupeiros-robô que limpem e passem a roupa – a LG tem um sistema próximo dessa ideia. Angle admite que os próximos dois anos serão mais para fazer evoluir a inteligência e interação dos robôs e depois então haverão novas máquinas, quem sabe se em robôs para cortar relva ou até ajudar no apoio a idosos.
O ideal é que os vários robôs e sistemas conetados da casa começam a comunicar melhor entre si, criando um sistema operativo centralizado no lar para que consigam manter sozinhos o funcionamento da casa, com eficiência (inclusive no gasto de energia), segurança e ambiente mais saudável para todos que lá vivem.
Pandemia sem efeitos de maior
Como tem sido habitual com empresas tecnológicas, como é o caso da iRobot, as vendas não se ressentiram particularmente durante a pandemia, já que embora as vendas no retalho tenham caído a pique, as vendas online compensaram essa descida. “As pessoas foram forçadas a trabalhar de casa e ficaram ainda mais desejosas de ter este apoio, especialmente aqueles que têm crianças”, explica o responsável.
Para o final do ano vai surgir um novo aspirador-robô, com “as mesmas funcionalidades de modelos anteriores, mas muito mais barato”.
Mulheres correm duas vezes mais risco de perder emprego para os robôs