Hans van Grieken, da Deloitte, reconhece que a transformação digital está a afetar o número de colaboradores nas empresas – mas que também vai criar novos trabalhos.
A apresentação do estudo Tech Trends 2019, da consultora Deloitte, trouxe Hans van Grieken, responsável de investigação tecnológica da área EMEA (Europa, Médio Oriente e África), a Lisboa, onde reconhece que se vivem tempos “complexos” para as empresas, alicerçados em mudança.
“Aquilo que vemos em quase todas as empresas é que a digitalização está a entrar na forma como interagimos com clientes, empregados e até na força de trabalho”, com a automação a reduzir as necessidades de colaboradores. “Para muitas empresas, a grande complexidade é que há tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo e tantas tecnologias que, quem já cá anda há muitos anos, tem dificuldade em lidar com esta onda.”
Hans van Grieken contacta com diretores de empresas de várias escalas – algumas delas centenárias – e refere que ouve com frequência um comentário: “A minha empresa precisa de ser mais como uma startup.” A resposta está na ponta da língua. “Digo-lhes que têm algo que as startups não têm: marca, posição no mercado e o mais importante: clientes que pagam. O melhor de dois mundos seria um cenário em que se conseguisse perceber o valor das startups e traduzi-lo para o mundo das grandes empresas”, diz, apoiando-se na estatística de que só 0,25% das startups conseguem passar ao nível seguinte, o de scaleup (empresas “com cinco anos de atividade e que ultrapassaram os dez milhões de dólares em receitas nesse tempo”).
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O analista da Deloitte diz que não é fácil para muitas empresas, especialmente quando “um dos grandes problemas para as organizações de grandes dimensões é o de que algumas destas tecnologias disruptivas trazem até disrupção para o negócio”. Hans van Grieken explica que é preciso saber identificar as mudanças. “O que impediu a Nokia de reagir há uns anos? Não eram estúpidos. Em muitos casos, não é que não percebessem o que aí vinha, era mais uma completa inabilidade para reagir à mudança.”
Podem existir vários perfis de organização, mas o que há de comum? O talento. “É obviamente um grande tópico, que tem muitas perspetivas no mundo.” Com um sorriso, Van Grieken explica que quando vai a alguma empresa costuma fazer a mesma pergunta: “Quem é o cirurgião?” “Os cirurgiões são exemplo de um trabalho de alto valor acrescentado que vai mudar porque de repente há um computador que olha para exames e analisa tudo de uma forma mais rápida do que os humanos.” Considera que tem uma visão algures no meio do espectro do mundo do trabalho.
“Acho que está a começar um grande desafio, mas que se pode resumir no desaparecimento de muitos empregos, sim, mas na criação de outros novos.” Uma das grandes tendências do estudo Tech Trends para 2019 está justamente ligado à automação de sistemas, com uma visão em que há menos colaboradores. “Por outro lado, as mesmas empresas [que necessitam de menos colaboradores] estão a contratar mais pessoas, muitos para trabalhos ligados à tecnologia”, explica.
“Trabalhos como growth hacker são profissões que as empresas mais corporativas não têm, mas que eventualmente vão precisar.” Outros trabalhos que Hans van Grieken acredita ainda virem a nascer? “Uma nova geração de arquitetos – porque algum dia os engenheiros e os responsáveis pelas arquiteturas TI tradicionais vão desaparecer”, sem esquecer também as tendências 3D.
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