A visão da BMW para um SUV elétrico, autónomo, preparado para 5G e com uma interação com os passageiros igual à interação humana torna-se realidade em 2021, anunciou numa breve entrevista à Insider / Dinheiro Vivo, Dr. Christoph Grote, o vice-presidente do BMW Group.
Nem só de smartphones, tablets e portáteis viveu a maior feira de aparelhos móveis do mundo, a Mobile World Congress (MWC). Marcas como a Mercedes e a BMW tiveram stands de dimensões consideráveis para mostrar algumas das inovações que estão a desenvolver e, além da capacidade dos seus automóveis poderem acolher o 5G, também há todo o mundo de interação com o carro, usando voz e gestos, “tal e qual como se estivessemos a falar com um amigo”, que vai ficar disponível em breve.
Foi junto ao novo protótipo da BMW, o Vision iNext, que fez a primeira aparição na Europa (já tinha passado no CES, em Las Vegas) agora no MWC, que conseguimos falar com Dr. Christoph Grote, o vice-presidente sénior de eletrónica do BMW Group.
O modelo elétrico que já retrai o volante e os pedais para a opção condução autónoma, tem controlo por gestos e reconhecimento facial e tem um sistema no próprio tecido dos bancos traseiros que permite controlar alguns funções do carro (uma espécie de tecido tátil).
Segue-se a pequena conversa onde também abordamos a nova joint venture de mobilidade partilhada (e não só) entre a BMW e a Daimler:
Quando é que a BMW espera lançar oficialmente para o mercado um produto final tal como o Vision iNext que está aqui na feira, elétrico, com capacidade autónomo e com as soluções de gestos no interior?
Vamos lançar em 2021 e não é só um objetivo, é uma certeza. Vamos atingir esse objetivo.
Tem muita tecnologia, não tem espelhos laterais, usa câmaras, aposta mais em gestos. O que o distingue mais a nível tecnológico, que muda a experiência de uma pessoa com o carro e que vamos poder experienciar em 2021?
Há dois destaques fundamentais que vão mesmo mudar a experiência das pessoas dentro do carro, uma delas é condução autónoma. Este carro vai já incluir automação de nível 3 (o condutor ainda pode conduzir e intervir mas deixa de ter de estar atento na maioria das situações). Haverá mesmo uma frota deste tipo de carros, confinada a certas áreas, que vai conseguir fazer nível 4 (é o nível antes dos carros totalmente robô, onde são feitas viagens inteiras do início ao fim sem intervenção do condutor, mas não são todo o tipo de viagens, são certos tipos de viagem), mas disponível em geral para clientes privados será o nível 3.
E qual o segundo destaque, a interação facilitada?
Sim, a segunda maior inovação é que vai mudar a forma como nos relacionamos com o carro será o que chamamos na BMW a Interação Natural. Se olharmos para este carro, onde estão todos os botões? Foram-se embora. Como fazemos isto? Em primeiro lugar, o humano que conduz o carro relaciona-se com a máquina da mesma forma como os humanos se relacionam uns com os outros. Então, podemos falar com o carro, por voz, por gestos. Através de reconhecimento facial ele sabe logo quem nós somos e age de acordo com as nossas preferências e estilo pessoal. Podemos apontar para coisas, fora do carro, para lhe pedir indicações ou mais informação e ele sabe o que queremos saber. Podemos falar com ele de uma forma muito multimodal. Podemos dizer, por exemplo, o que é aquilo e apontar para o restaurante lá fora. E ele percebe. Podemos apontar para algo dentro do carro também para lhe pedir que mude alguma coisa. Tudo isso será possível e é uma forma fundamentalmente nova de falarmos com o carro. O carro será um companheiro muito profissional. Ou seja, vamos ter um carro elétrico, autónomo e com interação natural em 2021.
Este é protótipo, por isso é provável que seja um modelo de aspeto diferente deste, certo?
Sim, claro, daí chamarmos-lhe iNext Vision, é a nossa visão para o que se segue depois da gama que já temos do i3 e i8.
A BMW e a Daimler estão juntas num grande e novo projeto de mobilidade partilhada, o Your Now. O que esperam dessa parceria e que novos lançamentos estão a preparar, além do que já há com a Share Now, o Free Now e os novos Reach Now, Charge Now e Park Now?
Sim, acabámos de anunciar a nova joint venture. Já temos hoje com esta união 60 milhões de clientes e baseados nesses clientes esperamos aumentar e melhorar todos os serviços verticais que foram anunciados, que são no total cinco. Os vários serviços de ridesharing (mobilidade partilhada) e também os serviços de carregamentos e todos os outros vão fazer uma grande diferença na vida dos utilizadores, que vão ter um ecossistema de mobilidade completo e que os pode ajudar a encontrar a melhor mobilidade disponível. São serviços que ainda vão evoluir muito além do que temos hoje, daí irmos investir mais de mil milhões de dólares e contratar mais de mil pessoas.
[Os serviços da nova joint venture Your Now:
- Free Now, ridesharing ao estilo Uber e onde está a Mytaxi;
- Share Now, que vai substituir e expandir o serviço Drive Now e Car2Go nas operações de carsharing;
- Charge Now, uma rede de carregamentos de veículos elétricos;
- Park Now, um serviço que mostra aos condutores onde encontrar estacionamento e até marcar um lugar em antecipação;
- Reach Now, um serviço de gestão de rotas de transportes públicos e privados baseado no smartphone, multimodal.]
A tecnologia em veículos como o iNext Vision pode servir estas plataformas de mobilidade, certo? Daí que a BMW e a Daimler possam continuar a garantir que os seus veículos continuam a ter relevância e a ser produzidos, mesmo quando nas cidades pode começar a haver menos compradores de carro próprio…
Sim, sem dúvida. Vivemos numa nova era da mobilidade e é importante estarmos prontos para ela, apresentando soluções válidas, porque os automóveis vão continuar a fazer sentido e vamos continuar a precisar deles para nos deslocarmos. Esta joint venture é na verdade para gerar e melhorar a experiência dos serviços como um todo. Como fabricantes de automóveis, vamos construir carros premium que façam a experiência integrada entre o produto e os serviços cada vez melhores e verdadeiramente premium.
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O que mais o entusiasma na tecnologia que a BMW está a desenvolver neste momento, o que vai trazer maiores mudanças à vida das pessoas?
A inteligência artificial, por um lado vai dar força à condução autónoma, mas também vai tornar mais fácil essa interação natural do utilizador com o carro de que já falámos. Por isso, a inteligência artificial que vamos incluir neste carro que vai chegar em 2021 entusiasma-me verdadeiramente. Estou desejoso que os clientes possam experienciar esta nova realidade.
Neste evento tem-se falado tanto de 5G, vai ser muito importante para conetar os carros uns aos outros e à cloud. Quando acha que a tecnologia do 5G vai conseguir estar implementada de uma forma mais global e fazer maior diferença?
Este carro já vai estar preparado para o 5G e, para mim, não serão os veículos ou os produtos que serão o fator limitador em relação às capacidades do 5G. Serão as redes a nível global que terão mais problemas em estar preparadas para o 5G e para as promessas que daí vêm, de maior velocidade e menor latência. Haverá zonas do globo que estão a avançar no 5G de forma agressiva, outras estão a ficar para trás. Este carro consegue fazer 4G e 5G, consoante as possibilidades de rede onde ele estiver.
O melhor dos dois mundos: esta suite fica dentro de um carro autónomo