Empresas na Web Summit tentam fazer match com talento

    A máquina de unicórnios da Siemens na Web Summit. (Carlos Costa/Global Imagens)

    Se há quem recorra à Web Summit para encontrar um investimento que possa ajudar na caminhada até ao estatuto unicórnio, também há quem esteja disponível a conhecer um possível empregador entre os pavilhões da FIL.

    A área de exposição da Web Summit é também feita de luta por atenção – ter o standmais chamativo ou fazer as ações mais fora da caixa é uma receita para o sucesso. No mundo das tecnologias de informação, onde quase todas as empresas referem a dificuldade em recrutar perfis na área tecnológica, também há quem lute pela atenção de candidatos. Empresas como a Siemens, EDP, DefinedCrowd ou a XpandIT aproveitam a Web Summit não só para mostrar ao mercado o seu negócio, mas também para mostrar a possíveis candidatos o potencial enquanto empregador.

    O unicórnio é um dos símbolos mais usados pelos corredores da área de exposição da Web Summit. Para a Siemens é também uma das estratégias para gerar o primeiro ponto de conversa com possíveis colaboradores. “É mais fácil ter um emprego de sonho do que apanhar um unicórnio”, lê-se na máquina que mais filas gera no stand da gigante de tecnologias de informação – uma caixa repleta de unicórnios de pelúcia, à distância de uma garra de metal e alguma destreza. Pedro Henriques, diretor de Recursos Humanos da Siemens Portugal, explica que “aquilo que fazemos aqui, em primeiro lugar, é trabalhar employer branding [imagem enquanto empregador]. A Siemens não é só uma empresa de engenheiros eletrotécnicos, é também uma empresa de tecnologias de informação”.

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    Para o responsável pela área de recursos humanos, a aposta nos unicórnios de pelúcia tem sido uma aposta ganha para conhecer novos perfis de candidatos. “As pessoas esperam na fila para jogar e, durante o tempo de espera, ficamos com os contactos e construímos uma base de dados para poder abordá-las mais tarde. Mas isso é de um lado, do outro estamos a trabalhar a imagem que queremos que as pessoas tenham de nós. Interessa-nos a questão da notoriedade.”

    Além da máquina de unicórnios, feita para conquistar perfis mais abrangentes, este ano a aposta da multinacional alemã passa por eventos e áreas específicas para atrair programadores de software. A área de developers lounge foi uma aposta. “Procurámos criar um ambiente confortável para quem queira estar aqui. Queremos criar um minicentro de atração para quem desenvolve software”.

    Um diversificado “viveiro” de perfis

    Daniela Braga, a criadora da DefinedCrowd, não esconde que a empresa está a caminho de tornar-se num próximo unicórnio português, uma empresa avaliada em mil milhões de dólares. Para a fundadora da empresa que opera no mundo da inteligência artificial, a Web Summit tem algo de diferente: a oportunidade de conhecer perfis de candidatos mais diversos. “Procuramos perfis híbridos de candidatos, o que é difícil de encontrar”.

    A especificidade dos perfis pretendidos dificulta o recrutamento da DefinedCrowd, empresa onde 10% dos trabalhadores são doutorados. “Cada departamento é superespecífico. São sempre perfis híbridos difíceis de contratar”. Ainda assim, só este ano, a fundadora da empresa explica que programas como o Tech Visa já permitiram contratar 18 pessoas. “Já contratámos 18 pessoas que vieram de fora do país, só este ano. Temos pessoas a vir da Índia, do Brasil, da América, da Austrália…”

    Daniela Braga refere que a Web Summit pode não ser dedicada especificamente a recrutamento, mas que já conseguiu contratar pessoas após contactos feitos no evento de Lisboa. “Penso que contratámos algumas pessoas a partir daqui. Muitos dos participantes são empreendedores e não acredito que a maior parte das pessoas venha aqui à procura de emprego, mas depois contactam-nos a posteriori. A visibilidade que temos tido, ano após ano, tem-nos permitido contratar.”

    “Não é bem o talento que vem aqui, mas é a visibilidade e o efeito cascata ao longo dos próximos meses”, reconhece.

    Para Margarida Azevedo, responsável de recursos humanos da EDP, a diversidade de perfis de candidatos disponíveis na Web Summit é também ponto de destaque. “Temos recebido perfis de todas as áreas, desde comerciais, até gestão ambiental, pessoas da área tecnológica… o que mostra também muito a diversidade das pessoas que vêm à Web Summit”.

    E destaca que esta tendência de abordagem de candidatos é algo que tem acontecido ao longo dos últimos três anos. O balanço é positivo, garante. “As pessoas vêm à nossa procura especificamente para falar sobre os currículos, que gostavam de se apresentar. Se pensarmos que a Web Summit é um evento onde muita gente procura financiamento para as ideias, achamos que [os contactos recebidos] têm sido bons números. Vêm as pessoas com as suas ideias, mas também temos recebido pessoas que veem o evento como uma oportunidade de conseguir uma oportunidade futura de emprego ou de negócio.”

    Atrair candidatos com Star Wars

    A empresa de consultoria e serviços em tecnologias de informação Xpand IT está habituada aos corredores da Web Summit como uma forma para conhecer potenciais candidatos mas este ano decidiu ser mais direta na abordagem. “Estamos a contratar”, é possível ler no stand da empresa. Durante o tempo em que Rui Maia, responsável de recursos humanos, falou com o Dinheiro Vivo, sucederam-se os candidatos prontos a iniciar uma primeira abordagem.

    Rui Maia, responsável de Recursos Humanos da Xpand IT. (Carlos Costa/Global Imagens)
    Rui Maia, responsável de Recursos Humanos da Xpand IT.
    (Carlos Costa/Global Imagens)

    Nas paredes do stand, a empresa aproveita o universo de Star Wars para mostrar aos candidatos as caras de quem trabalha na empresa. Rui Maia descreve a edição deste ano como “bastante positiva”, algo que encara como “um reconhecimento da marca, para um primeiro contacto a nível de recrutamento”. Aponta ainda que há um claro público a destacar: os estudantes.

    Esta não é a primeira participação da empresa na Web Summit, mas 2019 marca um ano de viragem no conceito disponível no evento. “Passámos de um conceito mais de negócio para um conceito de recrutamento. Estamos explicitamente a colocar no nosso stand a indicação de que estamos a contratar e a falar com as pessoas sobre o que é trabalhar na Xpand IT e transmitir isso – não só numa ótica de recrutamento, mas também para mostrar o que é trabalhar numa empresa madura, com 16 anos, mas que também já foi uma startup”.

    Rui Maia detalha que os contactos até ao momento têm sido feitos “maioritariamente por portugueses”. A localização do escritório da Xpand IT perto do recinto, no Parque das Nações, também entra na equação: há quem se apresente na Web Summit e esteja depois aberto para uma visita à empresa.

    Até ao final do ano, a Xpand IT espera chegar aos 300 colaboradores, objetivo que o responsável de RH espera estar cumprido até ao final do ano.

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