Engenheiro da Continental: “Elon Musk é um génio mas está errado”

    Estivemos no evento TechShow, onde a gigante da indústria automóvel, Continental, mostrou a sua visão para o futuro da mobilidade e onde conhecemos um engenheiro alemão que não concorda com algumas do líder da Tesla, Elon Musk.

    A indústria automóvel vive uma revolução nunca antes vista na era digital. A Continental mostrou-nos num evento tecnológico chamado TechShow, na Alemanha, que é muito mais do que uma empresa que vende pneus (só 30% do seu negócio vem daí), mas fornece cada vez mais tecnologia para uma mobilidade partilhada, autónoma e elétrica às grandes fabricantes mundiais.

    Nesse contexto, um dos engenheiros presentes no evento e que coordena a área monitorização no interior dos automóveis, explicou uma das apostas da Continental e deixou alguns elogios e critícas a Elon Musk, o líder da Tesla.

    O jovem francês Martin Petrov, há cinco anos na empresa, desenvolveu um sistema que a Continental vai disponibilizar para a indústria em 2021 que monitoriza o condutor quando pega no carro, já a pensar no nível de condução autónoma de nível 3 (em que é o condutor que decide quando é ou não responsável por conduzir).

    Martin Petrov, da Continental

    Utilizando sensores vários e câmaras, o sistema que vimos em ação percebe se estamos com os olhos na estrada ou distraídos com o olhar para baixo ou para fora do campo de visão da estrada. Também tem a indicação se temos as mãos no volante ou se apresentamos sinais de fadiga e atua em conformidade. Pode dar avisos dados por vibração do volante, som ou por head up display (uma espécie de projeção na zona do vidro em frente ao condutor) para termos atenção à estrada por estarmos distraídos, pedir-nos que possamos assumir por completo a condução se estivermos no modo autónomo.

    “Tem de haver uma ligação cada vez mais perfeita e fluída entre o humano e a máquina e é nisso que trabalhamos. Quando mais percebemos o ser humano, melhor a máquina o pode servir”, explica-nos Petrov. O engenheiro fala com orgulho do trabalho feito na Continental: “muita gente não sabe mais há vários modelos de carros em que 90% do que está no carro a Continental fornece, dos airbags aos motores passado pelos sistemas multimédia e de assistência à condução”.

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    A importância de olhar para o interior do carro

    Já sobre a Tesla, Petrov admite que é a referência atual para a mobilidade autónoma e elétrica na indústria automóvel e “têm sido pioneiros, ajudando a tecnologia a avançar mais rapidamente”. No entanto, não tem a mesma ideia que Elon Musk e a Tesla têm sobre o que se passa no interior do carro autónomo ou semi autónomo.

    “Não concordo com Musk quando diz que a Tesla não tem de monitorizar tudo no carro nem saber nada sobre o condutor”. É esse o motivo que leva a Tesla a não ter preparado nenhum sistema de interação ou de análise do condutor, mas o engenheiro da Continental garante que é importante conhecer o condutor: “é passageiro ou condutor, podemos usar o nível 2 ou o 3 de condução autónoma?” “Para ele ter uma câmara dentro do carro é vigilância, mas há vantagens para a mobilidade partilhada em ter câmaras dentro do carro, para ver se há alguém responsável no carro, se o carro está limpo ou sujo para os próximos clientes ou para garantir que não há violência dentro do carro”.

    Nesse domínio, Petrov admite que tem de haver uma boa interação entre humano e máquina, “se o carro não nos percebe não pode haver uma boa relação”, daí que seja importante perceber o que se passa no carro e qual o comportamento dos passageiros e, enquanto não o carro-robô totalmente independente não é uma realidade, os condutores. “Esse é um elemento crítico em que a Tesla está a falhar”, garante o engenheiro, que diz que “até chegarmos ao nível 5 de condução autónoma precisamos de resolver muitas questões, inclusive a possibilidade dos seres humanos adormecerem ao volante, daí que ajude ter sensores dentro do carro”.

    “O carro deve-nos conhecer”

    Um dos paradigmas destacado no evento é que o carro deve saber o que se passa no carro e quem conduz. “Saber o que se passa dentro do carro e reagir consoante o que se está a passar pode salvar vidas”, diz Petrov. Daí que mesmo numa situação de carros partilhados, o chamado carsharing, “é importante garantir que a pessoa certa está ao volante, tem carta e sabe conduzir”, daí que usem já algoritmos de biomedicina para a autenticação e identificação de invíduos no carro. Na verdade, a Continental até diz que não precisa de saber a identidade de quem está no carro, “basta saberer se está qualificado para conduzir e em que situação está naquele preciso momento”.

    Nesse contexto, o carro deve “ter noção do que estamos a fazer”, bem como deve “agir e reagir em função das nossas necessidades e até preferências”. Um assistente digital que fala connosco, nos compreende e responde a dúvidas será, assim, uma peça importante que a Continental também quer incluir no carro. “Se o carro tiver acesso logo ao nosso perfil, pode fazer propostas e sugestões até para conteúdo multimédia que os nosso filhos querem ver na viagem”. Certo é que a Continental acredita que a inteligência artificial vai tornar as viagens de automóvel muito diferentes no futuro e não é apenas na área da condução autónomas, mas também entretenimento dentro do carro.

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