Óculos, o principal periférico do corpo tem uma palavra holográfica a dizer

HoloLens 2
HoloLens 2, da Microsoft

A realidade aumentada deu um novo alento ao mundo dos óculos e já não é preciso parecer um extraterrestre para ver a vida real ‘aumentada’. Conheça exemplos nacionais que trabalham já na nova era dos óculos.

Por volta da mesma altura em que Jesus era vivo (ou pouco depois de morrer), o imperador romano Nero, com problemas de visão, começou a ver os espetáculos de lutas de gladiadores com a ajuda de uma pedra transparente verde – muito provavelmente uma esmeralda. Para isso, criou um aparelho que lhe permitia ter a esmeralda colada aos olhos e isso ajudava-o a defender-se, assim, da claridade solar. Julga-se que foi ele o primeiro a usar uma espécie de óculos, como os conhecemos hoje. Também existem registos que os esquimós utilizavam uma estrutura estilo óculos desde a pré-história, mas com uma função um pouco diferente. São estruturas com uma ranhura fina no meio, com o único objetivo de se protegerem dos ventos árticos.

Mas os óculos modernos como os conhecemos foram criados por monges no Norte de Itália, provavelmente em Pisa, por volta de 1290, inspirados nas ideias de um astrónomo árabe Ibn al-Heitam. Usaram uma lente esférica feita de quartzo que aumentava as letras. Chamaram-lhe Pedra de Leitura e a inovação melhorou em muito a qualidade de vida, primeiro dos monges, depois do resto da humanidade.

Mais de 700 anos depois, os óculos são tudo menos uma novidade, mas há algo que promete mudar a forma como os usamos. A realidade virtual prometeu muito, mas só tem tido algum sucesso no mundo dos jogos. Já a realidade aumentada vai muito além da ideia de ter uns óculos enormes ao estilo extraterrestre que nos atiram para uma dimensão à parte e nos tiram da realidade. São um complemento aquilo que nos rodeia, em que podemos circular à vontade, simplesmente vamos tendo informação extra projetada na lente. O potencial é, assim, maior.

A Google popularizou os seus Glass, um modelo vendido desde 2014 e pensado mais para investigação, que deixou de ser produzido em 2015, mas voltou a estar à venda em 2017 para empresas. A maior desvantagem sempre foi o aspeto pouco convencional, que anuncia ao mundo que temos algo especial na cara e o facto de só uma lente tem projeção de imagem.

O protótipo da Lusospace, os hI-DO

Óculos portugueses, com certeza

Chegados a 2019, hoje há algumas marcas que já permitem ter óculos que parecem convencionais, mas projetam informação extra na lente e têm ligação ao telemóvel como os Vuzix Blade, os North Focals ou os Solos, pensados para os ciclistas, tudo com preços a rondar os mil euros. Mas há uma empresa portuguesa que quer dar cartas nesta área. A partir de um laboratório em Samora Correia, a Lusospace, que já vende tecnologia à Agência Especial Europeia há alguns anos, está a desenvolver óculos de realidade aumentada de baixo custo.

A empresa de Ivo Yves Vieira que além do hardware também faz soluções de software, lançou o primeiro produto nesta área em 2015. O EyeSpeak tem ar de Google Glass e são óculos pensados para pessoas como Stephen Hawking, com a doença esclerose lateral amiotrófica, que têm ali a hipótese de interagirem através do olhar com uma lente.

“A maioria dos óculos de realidade aumentada têm dois grandes problemas, um é o campo de imagem muito pequeno, de 20 a 30 graus, outro é serem volumosos, pouco práticos e estranhos”. É tudo isso que Ivo Yves Vieira está a tentar evitar com o seu novo modelo, que recebeu apoios europeus de 1,5 milhões de euros no âmbito do Portugal2020. O responsável espera conseguir mais alguns apoios para lançar os hI-DO dentro de dois anos no mercado, por cerca de 700 euros. “Vamos oferecer o melhor campo de visualização neste tipo de óculos, com 60 graus de visibilidade e serão as duas lentes a terem realidade aumentada e não apenas uma, como acontece em muitos casos”.

Para isso, esperam que, inicialmente, o lançamento dos óculos até seja mais focado no mercado de desporto, “onde há um público ávido de gadgets”. “Pode ser uma boa porta de entrada, porque em vez de andarem de smartwatch no pulso podem ver a mesma informação nas lentes, no meio da estrada por onde andam”, explica Ivo, que acredita que este tipo de óculos serão uma tendência generalizada dentro de poucos anos, quando os preços descerem.

EDP, manutenção à distância

Numa área diferente, a EDP juntou-se à startup portuguesa Next Reality, de soluções para óculos de realidade aumentada, para um projeto piloto que começou no final do verão passado para permitir manutenção de barragens à distância. Para isso, a empresa investiu em 12 óculos Microsoft Hololens (uns óculos corpulentos e mais parecidos com os de realidade virtual, vendidos para investigação).

Os técnicos de manutenção especializados, mesmo longe da barragem onde, por exemplo, um equipamento avariou, colocam os Hololens e indicam passo a passo a uma pessoa no local como fazer a reparação. O sistema é mais eficaz, porque o técnico vê o mesmo que a pessoa no local e pode fazer desenhos na própria realidade para explicar com pormenor e com menor margem de erros como reparar. 

Esta realidade aumentada que já se viu nos famosos Pokémon GO “sobrepõe-se ao mundo físico e aumenta-o, dá-nos mais informação e torna-nos numa espécie de super humanos”, por isso, Luís Martins, da NextReality, acredita que supera a realidade virtual.

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Wearables há muitos, do pulso às pernas

Aparelhos vestíveis, é esse o significado dos chamados wearables, os gadgets que podemos usar como se de uma peça de roupa se tratasse. Os smartwatches são o wearable mais conhecido e mais usado, ao ponto da Apple ter conseguido que o seu Watch se tornasse desde 2017 no relógio mais vendido no mundo – é mesmo relógio e não apenas smartwatch.

A ligação ao telemóvel e a forma fácil como podemos monitorizar os nossos passos, o exercício que fazemos, o tempo que passamos sentados ou em pé e até a qualidade do nosso sono são algumas das vantagens de usar esta espécie de telemóveis de pulso (sim, podemos atender chamadas, falando para ele como Michael Knight falava com o seu relógio para chamar o carro KITT).

Mais recentemente, é mesmo possível fazer eletrocardiogramas com um smartwatch, para que ele nos avise por exemplo se tivermos a ter uma crise cardíaca (a Apple lançou em dezembro a funcionalidade nos EUA). Menos tecnológicas, mas com uma função relevante existem as pulseiras fitness, que fazem menos coisas mas permitem ao desportista saber quanto é que já correu e quanto lhe falta para atingir certos objetivos.

Mais recentemente, estão a surgir os chamados exoesqueletos, que têm a capacidade de aumentar a nossa capacidade de andar ou levantar objetos. A LG lançou recentemente um modelo para ajudar dois tipos de seres humanos: trabalhadores industriais e pessoas com problemas de mobilidade. O SuitBot aprende os movimentos do corpo do utilizador e ajuda-o de uma forma cada vez mais informada, disponibilizando dados biométricos. A LG conta comercializá-lo já em 2019, a pensar na área da saúde mas também nas fábricas.