Talento. Só contratar estrangeiros resolve falta de programadores

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    Ilustração: Vítor Higgs

    Há tecnológicas nas quais 30% das novas contratações já vêm de fora – com destaque para os brasileiros. Grande procura das empresas já obriga a importar talento para Portugal.

    Por Cátia Rocha e Rui da Rocha Ferreira

    Só no centro do Fundão, a Altran tem funcionários de 20 nacionalidades. Nos últimos 12 meses, a empresa contratou em Portugal quase mil novos trabalhadores ligados à área da tecnologia, dos quais 190 – perto de 20% – são estrangeiros.

    A empresa tem uma máquina interna para ajudar todos os funcionários que chegam de fora, desde o visto de permanência à ajuda na procura por uma casa. “Temos um pacote de integração da pessoa em Portugal. Ajudamos durante os primeiros tempos a instalar-se porque queremos que se sinta integrada e apoiada”, explica Célia Reis, diretora da Altran Portugal.

    Se este é um dos casos mais expressivos no número total de funcionários estrangeiros recrutados, há empresas em que o peso da importação de talento é ainda maior. A Claranet recrutou 150 pessoas e cerca de 30% vêm de fora.

    “A nacionalidade mais representada é a brasileira, no entanto, fazem parte da nossa estrutura pessoas vindas de Inglaterra, da Irlanda, de Israel, da Roménia, de Espanha, da Letónia, da Polónia e até das Filipinas”, exemplifica Filipe Costa, responsável pela área de talento. “O mercado nacional está com a balança da oferta e da procura desequilibrada. O facto de Portugal estar bem cotado na lista de destinos mais atrativos e seguros para se viver faz que muitos profissionais procurem o país para trabalhar”, adianta o responsável.

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    A isto junta-se outro motivo. “Está cada vez mais difícil recrutar para posições tecnológicas porque a procura tem vindo a intensificar-se e a fonte de talento é limitada”, diz Francisca Matos, diretora de recrutamento da Talkdesk no Porto e em Lisboa. Nessa empresa, 15% da equipa já é de origem estrangeira.

    “Quando pessoas que vêm de geografias e contextos distintos interagem e trabalham em conjunto, há resultados incríveis”, diz.

    Apesar de a contratação de estrangeiros ser uma aposta clara destas empresas, também há contratempos. “O prazo mais longo para integrarem a companhia, nomeadamente pelos prazos e burocracia necessária para a emissão de visto de trabalho”, destaca Pedro Geada, diretor do centro português da Sky Technologies, que recrutou 70 pessoas, das quais 10% são estrangeiras.

    Para dar resposta a este problema, o governo criou o programa Tech Visa, que pretende acelerar o processo, sobretudo de países fora da União Europeia. Dados fornecidos pelo Ministério da Economia ao Dinheiro Vivo mostram que já foram contratadas 220 pessoas por 45 empresas por esta via. Que diferença faz? Segundo Célia Reis, o tempo médio de contratação de um estrangeiro baixou de quatro meses para quatro a seis semanas.

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    As empresas podem ser diferentes, mas há uma resposta comum a quase todas: a nacionalidade brasileira domina nas contratações de profissionais estrangeiros para a área tecnológica. Na estrutura da francesa Altran, têm um peso de 86% no universo de profissionais estrangeiros. No caso do unicórnio Talkdesk, é visível mais um domínio das Terras de Vera Cruz: o Brasil lidera, num top 4 onde também há espaço para a Rússia, a Alemanha ou a França.

    Apenas a Webhelp Portugal foge à maioria dos profissionais brasileiros, pelo menos neste cenário: França, Itália, Espanha e Alemanha estão entre os países com maior representatividade.

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    Nuno Moura, consultor sénior da Michael Page, empresa especializada em recrutamento, indica outras tendências de importação de programadores e engenheiros informáticos: as nacionalidades indiana, turca ou ainda de profissionais dos países de Leste já se fazem notar. “O mercado de IT continua muito dinâmico e a instalação de empresas multinacionais internacionais no nosso território com grande capacidade financeira e projetos de larga escala faz que exista maior rotatividade de perfis e que o aliciamento de estrangeiros seja mais apetecível”, elucida Nuno Moura.

    Mas há outro aspeto a ter em conta. “O facto de Portugal ser uma boa porta de entrada na Europa por questões de cidadania também ajuda a que, de facto, exista este paradigma.”

    Num mercado onde a disponibilidade de profissionais da área tecnológica continua longe da procura, as empresas ouvidas pelo Dinheiro Vivo apostam em benefícios extra para atrair talento.

    Tal como a Talkdesk, também a Sky Technologies recorre a apoio à relocalização, assim como a Claranet. “Todos os colaboradores vindos de mercados internacionais têm na sua proposta base um relocation package, que inclui serviços que vão desde a assessoria e representação fiscal ao apoio individual na procura de alojamento permanente”, explica Filipe Costa, responsável da Claranet.

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    A burocracia com vistos de residência não é a única dificuldade apontada pelas várias empresas. No caso da Webhelp, é referido o aumento dos preços na capital. “Sobretudo o aumento do custo de vida em Lisboa e a dificuldade em encontrar apartamentos a bons preços para arrendar na cidade”, indica Lina Santos.

    Talkdesk coloca ainda na equação a competição externa, com “a concorrência em termos salariais apresentada por grandes hubs tecnológicos europeus, como Londres ou Berlim”.

     

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