Zuckerberg: “realidade virtual e aumentada vão mudar a vida nas cidades”

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O CEO do Facebook falou nos novos projetos com que quer mudar o mundo, das novas comunidades na plataforma ao que pretende com a realidade virtual.

Ao longo de mais de 90 minutos, Mark Zuckerberg respondeu no podcast da Recode às muitas questões de Kara Swisher, jornalista de tecnologia conhecida por entrevistas icónicas a alguns dos mais influentes empreendedores do mundo, de Steve Jobs a Bill Gates.

Já falámos do tema por aqui. Mas na parte final da entrevista Zuckerberg abriu-se mais sobre os próximos projetos para o Facebook e a sua visão para a sociedade futura… que envolve realidade virtual e aumentada.

O líder do Facebook admitiu estar entusiasmado com as novas plataformas de computação. Apesar de não estarem a ter a explosão esperada pelo próprio Zuckerberg, continua a achar que realidade virtual (RV) e realidade aumentada (RA) “vão ser decisivas”. “Agora as redes são boas o suficiente para o vídeo ser o mais relevante que se vê. Em cada passo da evolução tecnológica, conseguimos capturar a experiência humana com maior fiabilidade e riqueza”.

E onde é que isso nos leva? Para Zuckerberg RV e RA “estão a levar-nos para um mundo em que, eventualmente, podemos capturar por completo a experiência que estamos a viver e enviá-la para alguém”. “E isso é incrível porque vai permitir que nos possamos colocar no lugar de outra pessoa e sentirmo-nos fisicamente num lugar em que não estamos”.

Isto vai resolver uma das críticas feitas à tecnologia atual: “deixamos de estar sentados a olhar para o telefone, podemos estar todos sentados à mesma mesa, embora que estejamos todos em lugares diferentes (graças à RV).

O impacto nas cidades

O responsável do Facebook admite que ainda são precisos alguns saltos tecnológicos nessa tecnologia, mas o uso inicial é “espantoso” e que é algo que pode ter impacto económico nas cidades.

“Um dos problemas económicos é que as oportunidades não estão bem distribuídas. Há muitos que se deslocam para as cidades, mas estão cada vez mais caras e só ao alcance de alguns”. É aí que entra a realidade virtual: “com RV podemos estar presentes em qualquer lugar, mas viver noutro local, onde quisermos, e isso pode trazer mudanças profundas”.

Zuckerberg lembra que as cidades estão cada vez maiores e que tecnologias como o hyperloop (de que falamos nest artigo) vão ajudar, mas RV e RA têm maior potencial. “Estamos em 2018 e é muito mais barato e fácil mover bits do que átomos [como se viu no teletransporte de tantos filmes, mas que a tecnologia ainda não acompanhou], RV, RA ou mesmo videoconferência tem mais potencial para serem parte da solução”.

O Facebook organizou este ano nos EUA e na Europa duas conferências sobre os seus produtos que ajudam comunidades.

Objetivo: mil milhões dentro de comunidades no Facebook

O CEO do Facebook explicou como está focado em desenvolver o que chamou de Comunidades. “Que envolvem redes de pessoas de confiança”. Zuckerberg explica: “tratam-se de pessoas que têm algo em comum e é uma experiênca melhor se vão partilhar pensamos e sentimentos em comum num grupo”.

Zuckerberg usou a expressão “comunidade” 26 vezes na sua entrevista. A maioria foi para expressar o desejo do Facebook em ter ações que permitam “manter a comunidade segura”. Mas o líder da rede social mais popular do planeta – com mais de dois mil milhões de utilizadores -, quer melhorar a aumentar o papel do Facebook na hora de permitir às pessoas construir comunidades. “É uma das coisas únicas que fazemos no mundo”.

Zuckerberg lança mesmo números sobre o declínio histórico do sentido de comunidade.

“Tem estado em declínio há 40 ou 50 anos, bem antes da internet. Desde os anos 70 que existem 25 a 30% de pessoas que já não pertencem a grupos, de organizações religiosas a organizações locais ou de voluntários. Para mim isso é uma verdadeira crise e não é só na América, é no mundo”.

Esse foi o motivo para o Facebook ter mudado a sua missão o ano passado, já não é apenas para família e amigos, que será sempre importante, mas para criar comunidades.
Zuckerberg quer que soldados ou mulheres de soldados possam juntar-se em comunidades na sua plataforma, ou mães ou pais, para que partilhem experiências. Ou alguém com uma doença rara, que possa ver numa comunidade no Facebook pessoas que a compreendem. “Há 200 milhões de pessoas que são já parte do que chamamos comunidades com significado e que se sentem essa pertença como algo que as define e lhes dá suporte”.

E qual o objetivo? Não, Zuckerberg não quer ser a Oprah das redes sociais como sugere a certa altura Kara Swisher, mas quer em cinco anos ter mil milhões de pessoas inseridas em comunidades que tenham significado relevante. “Se fizermos isso, vamos ter um papel importante em reverter esta tendência com décadas de não ter pessoas a serem parte de comunidades”. Não é por acaso que Zuckerberg dá como o seu principal mentor, Bill Gates, como empreendedor e como filatropo.