Já conduzimos o mais potente dos Tesla Model 3

Tecnologia que surpreende, interiores minimalistas e super autonomia num carro que em Portugal promete fazer sucesso.

Será certamente injusto comparar o Model 3 com o Model S. Mas a verdade é que em Portugal a melhor comparação com um Tesla é… outro Tesla. E o Model 3 poder-se-ia dizer que é um irmão mais novo (sem desprimor), com uma impressionante capacidade de aceleração – melhor dizendo, capaz de nos deixar colados aos bancos. O que é uma excelente notícia num modelo que é mais barato (embora tenha um preço base, agora, de 56.900 euros), mas que não poupa em nada na (boa) loucura dos restantes modelos da Tesla.

No nosso país e na Europa, só estão à venda duas versões do Model 3: Long Range Dual Motor All-Wheel Drive, que é capaz de acelerar de 0 a 100 km/h em 4,8 segundos e tem uma autonomia WLTP de 560 quilómetros; e Performance (a unidade ensaiada), que vai dos 0 aos 100 km/h em apenas 3,5 segundos e conta com uma autonomia WLTP de 530 quilómetros.

A DN Insider / Dinheiro Vivo tomou um primeiro contacto, de apenas umas horas num primeiro ensaio durante um dia, com o modelo mais potente. A primeira impressão é a de estarmos ao volante de um desportivo – mesmo falando de uma berlina com 4,7 metros de comprimento – onde se sente a cada forte aceleração um imenso binário. Esta versão pode transformar-se ainda mais divertida com a função “Track Mode” – que eleva a performance deste Model 3 ao nível de “pista” –, intervindo na distribuição do binário e regeneração da travagem, entre outros.

É um carro impressionante. Com uma condução dinâmica e suspensões ajustáveis a qualquer situação. No modo mais desportivo, neste Model 3 com jantes de 20 polegadas, nota-se uma pequena rigidez em pisos mais estragados, contrariamente ao que acontece no Model S, a berlina topo de gama.

Tecnologia surpreendente com a assinatura da Tesla

Conduzir um Tesla é ter uma experiência tecnológica que prima pela inovação e que nunca deixa de nos surpreender. E neste aspeto este Model 3, na versão mais equipada, pouco difere de um Model S ou X. O hardware do Autopilot é igual ao do resto dos veículos Tesla. Por mais 5.400 euros, tem-se acesso à opção Enhanced Autopilot (Piloto Automático melhorado), que ajusta a velocidade às condições do trânsito, mantém-se na mesma faixa de rodagem seguindo as linhas traçadas no asfalto, estaciona automaticamente num lugar e inclui a sempre útil opção Summon, que permite tirar ou meter o veículo em espaços apertados.

Sendo este um modelo tecnológico, dispensa chave. A ideia é que esta seja substituída pela aplicação para smartphone. Sendo que o cliente tem sempre um cartão magnético – tipo cartão de crédito – que abre as portas e desbloqueia a ignição.

Os interiores são minimalistas. Na unidade ensaiada, tudo é branco e o tabliê tem acabamentos em madeira de qualidade premium. Não há botões quase nenhuns. Aliás, são ainda menos do que no Model S e no X. O volante tem apenas dois comandos e todas as portas têm um botão para abrir, há ainda um botão para abrir o porta-luvas e um de SOS. De resto, está tudo disponível no ecrã de generosas dimensões, na consola central, com 15 polegadas – o mesmo que um laptop – comum.

O ponto menos positivo, durante o ensaio, foi mesmo a disposição horizontal deste ecrã – nos restantes modelos Tesla está colocado na vertical –, que tem uma grande distância entre a vista do condutor e a extremidade mais longe do dispositivo, o que às vezes pode prender a atenção. Falamos essencialmente de instruções do GPS, já que os restantes comandos do ecrã abrem no lado mais próximo do condutor.

Super autonomia, super bateria

Utilizar os supercarregadores Tesla, distribuídos em cinco estações pelo País, é a forma mais rápida de carregar esta bateria com uma autonomia WLTP de 530 quilómetros. Depende, mas em pouco mais de uma hora consegue-se a carga toda. É realmente rápido. Mas a verdade é que esta é uma solução de recurso para utilizar em viagens maiores. Este modelo permite utilizar a rede de carregadores públicos, além dos da Tesla.

É preciso é que o condutor saiba controlar o pé no acelerador em função da autonomia. Mantendo uma velocidade abaixo dos 100 km/h, é possível que cada quilómetro percorrido corresponda a menos um quilómetro de autonomia, segundo os nossos testes. Mas se elevarmos a velocidade aos 120 km/h já perdemos cerca de mais 30% por cada 100 km percorridos. Pior será a partir deste patamar de velocidade. Certo é que o imenso binário que se sente a cada aceleração maior potencia que se atinja maiores velocidades.

Na Europa já existem 430 localizações e mais de 3600 Superchargers individuais e esta rede está em crescimento. Em Portugal, existem 44 Supercarregadores distribuídos por cinco estações. O Model 3 vendido na Europa incorpora um ponto de carregamento CCS compatível também com redes de carregamento rápido de terceiros.

Tesla baixa preços. “Portugal poderá ser um mercado forte para o Model 3”

A Tesla reduziu em 3300 euros o preço em Portugal do Model 3, ao mesmo tempo que chegou ao mercado norte-americano a versão low-cost deste modelo, que custa a partir de 35 mil dólares (cerca de 30 mil euros) e que deverá chegar à Europa e à China “entre três a seis meses”, segundo Elon Musk.

As duas versões vendidas em Portugal custam agora 56.900 euros, no caso da Long Range Dual Motor All-Wheel Drive, e a partir de 68 mil euros, na Performance. Antes custavam 60.200 e 71.300 euros, respetivamente. A Tesla não divulga, no entanto, estimativas de vendas em Portugal, nem revela o número de encomendas que recebeu.

Contactado pela Insider / Dinheiro Vivo, Daniel Ives, analista norte-americano da Wedbush Securities e especialista em tecnologia automóvel, acredita que “Portugal poderá ser um mercado forte para o Model 3, já que há uma elevada procura por este modelo, especialmente no segmento mais caro do mercado” – que se deve ao facto de só terem chegado cá as duas versões mais caras.

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Para os analistas, o futuro da Tesla depende em grande parte da venda dos modelos mais caros da marca, em detrimento das versões low-cost. O ex-vice-presidente da General Motors Bob Lutz, questionado pela Insider / Dinheiro Vivo, considera que “o Model 3 pouco fará pela Tesla financeiramente ao preço originalmente anunciado de 35 mil dólares”. A boa notícia, para o histórico executivo da indústria automóvel americana, é que “a procura inicial foi tão elevada que a Tesla conseguiu vender a maior parte da produção por mais de 50 mil dólares. Isso melhorou os lucros.”

Daniel Ives acredita que “a Tesla continua a ser um líder transformador nas vendas de veículos elétricos, com as vendas na Europa a serem chave para o crescimento da empresa em 2019 e nos próximos anos”. Contudo, o “aumento da concorrência no espaço dos veículos elétricos continua a ser o maior desafio para a Tesla no futuro próximo”.

Opinião contrária tem Bob Lutz, que sempre foi muito crítico à gestão de Elon Musk. “Não vislumbro um futuro muito positivo para a Tesla. Baixa gestão, dívidas, custos fixos demasiado elevados, mix de vendas fraco, cansaço dos investidores e a concorrência nos veículos elétricos conspiram para acabar com a empresa em poucos anos.”

Para já, o novo Model 3 permitiu à marca de Elon Musk ficar em primeiro lugar nas vendas de carros elétricos em 2018, segundo a consultora Jato Dynamics.

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