“Temos que fazer reconversão de profissionais em muito maior volume em Portugal”

Célia Reis | Altran Portugal
Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens

O alerta é de Célia Reis, diretora executiva da Altran para o mercado português. Falta de profissionais está a colocar pressão nas empresas.

Recrutar pessoas estrangeiras é apenas metade da solução que a Altran arranjou para conseguir contratar todos os profissionais que precisa. A outra solução passa pela reconversão profissional: pessoas que mesmo não tendo um passado ligado à tecnologia, aprendem a programar e passam a fazer desta atividade o seu principal ganha-pão.

“Vivemos neste momento um contexto, europeu e global, que tem a ver com uma aceleração, com a transformação que é conhecida como transformação digital, mas que final do dia vai levar a que haja uma profunda transformação daquilo que são os conhecimentos que são necessários para desenvolver um conjunto de atividades e sobretudo vai colocar uma grande pressão sobre necessidade de mão de obra na área das tecnologias da informação e que se tem estado a sentir”, explica a executiva em entrevista à Insider/Dinheiro Vivo.

Além de haver cada vez mais empresas de tecnologia em Portugal, as que já cá estavam continuam a crescer. Nos últimos doze meses, a Altran Portugal contratou perto de mil pessoas.

“Aquilo que estamos a constatar é uma aceleração e a curva de produção nacional não está em linha com essa aceleração. Portanto, todos temos que fazer para garantir que não entramos numa escalada de aumento de custos que no final do dia tornam o modelo económico de Portugal impossível”, acrescenta a responsável.

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A Altran tem criado as suas próprias academias de reconversão – já fez parcerias com os Institutos Politécnicos de Beja e Leiria, também já trabalhou com a Academia de Código – e este é um caminho que a empresa está a fazer desde 2015.

“Se várias empresas do nosso sector fizerem este investimento em conjunto, de facto, há aqui uma oportunidade, um potencial razoavelmente grande que pode ser, no prazo de um ano, reconvertido para aquilo que são as necessidades críticas do nosso sector. Aí, o nosso ponto de vista é que ainda há poucas empresas a fazer este investimento de reskilling”.

“Temos que ser mais, o lago é pequenino, há poucos peixes, se somos poucos a cultivar o reskilling e muitos a pescar, de facto o modelo não funciona”.

O nível de compromisso da Altran vai ao ponto de a empresa ter contratado quatro professores de francês, que são ‘residentes’ na tecnológica, para que os seus profissionais aprendam mais do que programação. A responsável sabe que parte das pessoas que está a formar vão acabar por ser ‘cobiçadas’ por outras tecnológicas do mercado, daí que deixe um alerta.

“Quanto mais empresas fizerem este trabalho, mais fácil vai ser para todos. Enquanto existirem apenas poucas empresas a fazerem este investimento, e à data de hoje ainda somos poucas as empresas, vamos todos continuar a ter dificuldades”.

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