Investigadora portuguesa recebe bolsa de 1,5 milhões de euros para estudar fake news

A investigadora Joana Gonçalves Sá. (Carlos Manuel Martins/ Global Imagens)

Joana Gonçalves de Sá, professora e coordenadora do grupo de investigação em “Data Science and Policy”, vai receber 1,5 milhões de euros de uma bolsa europeia, para estudar o fenómeno das notícias falsas e desinformação.

A bolsa foi atribuída pelo European Research Council (ERC), através de um starting grant. Joana Gonçalves de Sá é professora da Nova School of Business & Economics, em Lisboa, e, com esta bolsa, poderá dar continuidade ao projeto “Fake News and Real People – Using Big Data to Understand Human Behaviour” (FARE).

Através de comunicado, é indicado que este projeto pretende usar técnicas experimentais e computacionais para estudar o fenómeno da desinformação e perceber quais os fatores que justificam o processo de decisão na partilha de conteúdos falsos. O financiamento europeu é válido para os próximos cinco anos, permitindo que a investigadora e a equipa recorram a técnicas de várias áreas de estudo, como o big data, sistemas computacionais ou psicologia comportamental para criar modelos sobre o tema. A professora da Nova SBE espera que, eventualmente, esta investigação permita dar uma nova luz sobre a área da desinformação e perceber quais os fatores que entram em jogo e levam alguém a partilhar um conteúdo que promove a desinformação.

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“A chamada revolução digital e a quantidade de informação gerada pela nossa atividade online está a dar-nos, pela primeira vez, a possibilidade de estudar o comportamento humano a uma escala quase universal. Mas este recente aumento da atividade online, aliado à baixa alfabetização digital, identificação individual de consumidores e os grandes lucros com as receitas de anúncios online, criaram uma tempestade perfeita para a epidemia das ditas notícias falsas (Fake News), com consequências ainda desconhecidas”, diz a investigadora, citada em comunicado.

Joana Gonçalves de Sá acredita que “apesar das informações falsas não serem novas na história da humanidade eventos recentes, desde o movimento anti-vacinação, até ao Brexit, levantam sérias preocupações sobre a sua influência atual e a manipulação a que estamos sujeitos”.

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Miguel Ferreira, presidente do Conselho Científico da Nova SBE aponta que “a atribuição da mais prestigiada bolsa de investigação europeia à Joana Gonçalves de Sá constitui o reconhecimento do excelente trabalho desenvolvido por ela e pela sua equipa nos últimos anos e a natureza inovadora dos estudos que vão desenvolver nos próximos anos. Esta bolsa é também única dado o caráter multidisciplinar da investigação desenvolvida neste projeto que cruza data science, economia, comportamento e saúde pública”. O mesmo responsável aponta ainda que se trata do reconhecimento do investimento da universidade portuguesa na área do big data e da inteligência artificial na “resolução dos desafios atuais que são enfrentados pelas empresas e sociedade em geral”.

Já Elvira Fortunato, vice-reitora para a investigação da Universidade Nova de Lisboa prefere destacar o posicionamento da instituição de ensino superior na área da investigação. “Temos hoje 20 das 104 bolsas ERC atribuídas a Portugal, desde o início do programa, o que representa cerca de 19% a nível nacional. Por outro lado, sendo a promoção e atração do talento científico uma das áreas estratégicas da Universidade Nova esta bolsa mostra de forma clara a aposta que tem sido feita”.

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Com 1,5 milhões atribuídos, a bolsa concedida pela instituição europeia à investigadora é a mais elevada em Portugal. A segunda foi atribuída a João Conde, do Instituto de Medicina Molecular (IMM), com um valor de 1,4 milhões de euros. O investigador tem como objetivo o desenvolvimento de novos materiais para o diagnóstico e tratamento do cancro da mama.

Joana Gonçalves de Sá licenciou-se em Engenharia Física Tecnológica pelo Instituto Superior Técnico. Através do Programa Gulbenkian de Doutoramento em Biomedicina, desenvolveu a tese em Biologia de Sistemas na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

Foi também investigadora principal no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) entre 2012 e 2018, onde ainda hoje coordena a Iniciativa Ciência e Sociedade. Joana Gonçalves de Sá é ainda diretora do programa em Ciência para o Desenvolvimento, destinado a melhorar a educação e investigação científica nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).

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