Facebook, Google e Amazon. Os ‘vilões’ do mundo digital continuam a ganhar rios de dinheiro

Techlash | Tecnológicas
Foto: Jimi Filipovski / Unsplash

Tecnológicas norte-americanas têm sido afetadas por sucessivos escândalos que colocam em causa a privacidade dos utilizadores, a lealdade dos trabalhadores e a confiança em projetos futuros. Mas no meio de tudo isto, as receitas não param de aumentar.

O Facebook deixou expostas 600 milhões de palavras-passe dos seus utilizadores. A Google foi obrigada a desativar comentários em milhões de vídeos para travar uma rede de pedofilia que existia no YouTube. E a Amazon é acusada de usar tecnologias de rastreamento para monitorizar o desempenho dos seus trabalhadores e depois despedi-los com base nesses dados.

Estes são apenas três exemplos recentes que abalaram a reputação de empresas que estão entre as mais consagradas do mundo e também entre as mais valiosas. No caso específico da Amazon, a tecnológica de Seattle chegou mesmo a valer há poucas semanas um bilião de dólares no mercado bolsista.

E nem sequer são os exemplos mais notórios. O facto de o Facebook ter sido usado para influenciar as eleições presidenciais norte-americanas de 2016, o facto de o sistema de anúncios da Google ter sustentado centenas de sites de desinformação (fake news) e o facto de a Amazon ter colocado cidades norte-americanas a lutarem entre si pela construção da sua nova sede são temas que fazem pensar muito mais no impacto que estas empresas têm no mundo moderno.

Se por um lado a confiança dos utilizadores pode sair abalada, a lealdade dos funcionários estremecida e a confiança em projetos futuros enfraquecida, há um elemento comum às três empresas que não tem conhecido impacto negativo: as receitas.

O Facebook terminou os primeiros três meses de 2019 com receitas de 14,9 mil milhões de dólares, quando em igual período de 2018 tinha conseguido 11,96 mil milhões. A Alphabet, empresa-mãe da Google, saltou de 31,14 mil milhões para 36,33 mil milhões de dólares. Já a Amazon passou de 51 mil milhões para 59,7 mil milhões de dólares no primeiro trimestre do ano.

Estes são números que parecem mostrar que estas grandes tecnológicas têm sido, dentro do possível, ‘à prova de bala’ relativamente ao impacto dos escândalos e polémicas que têm vindo a público.

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À exceção da Amazon, que quase duplicou os lucros trimestrais para 3,51 mil milhões de dólares entre janeiro e março, tanto o Facebook como a Alphabet viram os seus lucros caírem – e em ambos os casos por práticas negativas que as tecnológicas têm tido no mercado.

No caso do Facebook, a empresa disse, durante a mais recente apresentação de resultados, ter colocado três mil milhões de dólares de parte para pagar uma multa da Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC) que poderá estar para breve. Já os lucros da Google foram impactados pela multa, aplicada pela Comissão Europeia, de 1,5 mil milhões de euros por dificultar a presença de plataformas rivais de publicidade digital em vários websites, elevando para mais de oito mil milhões o valor de coimas que a gigante dos motores de busca já pagou nos últimos dois anos.

Ainda que as empresas Facebook, Google e Amazon sejam das que têm sofrido maior techlash – expressão usada pelos norte-americanos para definir o sentimento de contestação que tem como alvo as grandes tecnológicas -, outras gigantes também têm tido o seu quinhão de problemas.

A Microsoft, por exemplo, cujas receitas aumentaram de 26,81 mil milhões de dólares para 30,57 mil milhões nos primeiros três meses de 2019, apesar de não estar recentemente envolvida em polémicas que afetem diretamente os seus utilizadores, tem sido pressionada a nível interno pelos funcionários por alegadas questões de discriminação e assédio sexual no trabalho, bem como por projetos que a empresa está a desenvolver na área da defesa com o Pentágono, o departamento de defesa dos EUA.

Das chamadas Big 5, a Apple foi a única a baixar as receitas: passou de 61,1 mil milhões de dólares para 58 mil milhões, muito por causa da quebra de 30% na venda dos iPhone, ainda que a empresa também tenha, volta e meia, as suas polémicas – não relacionadas com a vida digital dos utilizadores, mas acima de tudo com hardware. Um dos casos mais notórios foi quando a marca da maçã mentiu, de forma deliberada, durante anos, escondendo que diminuía o poder de processamento dos iPhone para conseguir manter a autonomia dos equipamentos estável com o passar dos anos.

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A Uber, que nos meses antes e depois da saída do seu fundador, Travis Kalanick, esteve envolvida em vários escândalos, incluindo na omissão de um ataque informático de grande escala e que afetou quase 50 milhões de utilizadores, está a preparar-se para entrar na bolsa de valores, angariar quase nove mil milhões de dólares e atingir uma valorização de 90 mil milhões de dólares.

O valor que estas empresas têm significam, por outro lado, a importância que representam na vida de milhões de pessoas em todo o mundo: o Facebook já liga mais de 2,3 mil milhões de utilizadores; a Google, com o motor de busca e o YouTube, tem as duas plataformas de pesquisa mais populares do globo e só em Portugal tem um impacto financeiro de 2,5 mil milhões; e a Amazon ajudou milhares de empresas e vendedores a massificarem o comércio eletrónico e está a democratizar a inteligência artificial.

É caso para relembrar Melvin Kranzberg, professor norte-americano de história da tecnologia, que ficou célebre pela frase: “A tecnologia não é boa, nem má; e também não é neutra”.

30 anos depois, a internet está estragada. E agora?