Sundar Pichai: de gestor de produto a dono do reino Alphabet e Google

Sundar Pichai, CEO da Google. Fotografia: REUTERS/Stephen Lam

As chaves do reino de uma das empresas mais poderosas do mundo já estavam na mão de Sundar Pichai, CEO da Google, mas, a partir de agora, o engenheiro assume também a direção da casa-mãe Alphabet, concentrando poderes.

Esta terça-feira, Larry Page e Sergey Brin, os criadores da Google, anunciaram que estavam preparados para afastar-se da liderança da Alphabet, a empresa-mãe. A holding Alphabet, que abarca todas as empresas e produtos da Google, foi criada em 2015, após uma reorganização, colocando Larry Page no cargo de CEO e Sergey Brin na presidência da Alphabet. Nas palavras dos fundadores, era tempo de simplificar a estrutura.

No comunicado conjunto, onde deram conta do abandono dos cargos de liderança, Page e Brin avançaram ainda que, Sundar Pichai, de 47 anos, acumularia o cargo de CEO da Google e também da holding Alphabet. “A Alphabet e a Google já não precisam de dois CEO e de um presidente. A partir daqui, Sundar será tanto o CEO da Google como da Alphabet”, indicaram na publicação.

Há 21 anos, Larry Page e Sergey Brin criaram o motor de pesquisa Google, um produto que mudou o panorama da web a nível global. Desde 2015, estão mais afastados dos holofotes, liderando outros projetos da Alphabet – há muito que não estão presentes em apresentações públicas da Google. Duas décadas depois, entregaram as chaves do reino a Sundar Pichai, executivo que tem sido a cara da Google nos últimos anos.

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Na Google desde 2004, onde começou como gestor de produto, ditou o desenvolvimento de novos produtos, como o Gmail, a suite de produtos empresariais, o browser Chrome ou até o sistema operativo Chrome OS, presente em vários computadores.

Pichai foi conquistando triunfos na estrutura da Google – os produtos em que esteve envolvido, como o Gmail ou o Google Maps, são dos mais conhecidos do panorama tecnológico. Também não é possível esquecer a liderança do Android, o sistema operativo dominante, papel que assumiu em março de 2013.

Todo este percurso culminou na subida de constantes degraus da escada corporativa: em 2013 chegou a Product Chief, posição atribuída por Larry Page, metade da dupla de fundadores da Google. Em agosto de 2015, assumiu o cargo de CEO da Google, para substituir Page no cargo de CEO.

Fã de futebol – é amplamente conhecido que tem uma preferência por Lionel Messi e pelo Barcelona -, Pichai tinha como sonho de criança a carreira de jogador de críquete, desporto que ainda acompanha regularmente. O mundo da tecnologia ganhou o duelo: nascido na Índia, filho de uma estenógrafa e de um engenheiro eletrónico, Sundar Pichai estudou engenharia metalúrgica no Instituto Indiano de Tecnologia de Kharagpur, passando mais tarde para a Universidade de Stanford, na Califórnia, nos Estados Unidos. Seguiu-se ainda um MBA na Wharton School, na Universidade de Pensilvânia. Antes de chegar à Google, ainda passou pela consultora McKinsey & Company.

Reinado Google não está livre de polémica

Larry Page e Sergey Brin destacaram na carta de saída as capacidades de Sundar Pichai. Se, por um lado, Pichai conseguiu multiplicar os lucros da Google e encontrar novas fontes de receita, como os produtos Pixel, por exemplo, também não tem uma gestão isenta de polémicas.

Ao longo destes quatro anos, já teve amargos de boca com despedimentos controversos. Em 2017, tornou-se público que teria despedido um empregado, após este ter escrito um manifesto onde criticava as políticas da empresa, nomeadamente na área da igualdade de género e diversidade.

Nos últimos tempos, uma das grandes polémicas está ligada às críticas dos empregados, descontentes com os contratos feitos com forças como o Pentágono. O resultado? Milhares de funcionários da Google, abandonaram os postos de trabalho, para se juntarem a protestos contra os contratos militares da empresa.

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Outro ponto de frição no percurso de Sundar Pichai tem sido a existência ou não de um projeto virado para a China, com o nome de código Dragonfly. Em novembro do ano passado, dezenas de funcionários da Google assinaram uma carta aberta onde pediam o fim do projeto Dragonfly, que envolveria o desenvolvimento de um motor de pesquisa para o mercado chinês, com possibilidade para censura. Em reação, Sundar Pichai indicava, na altura, que a Google não lançaria a “curto prazo um produto de pesquisa no mercado chinês”, mas que o projeto existiria.

A juntar a isto, Larry Page e Sergey Brin abandonam as rédeas da casa-mãe Alphabet num momento de constante escrutínio às atividades das tecnológicas. Na Europa, a comissária Europeia para a Concorrência, Margrethe Vestager, já aplicou duras multas à Google. Do outro lado do Atlântico, em casa, são várias as vozes que pedem maior regulação à área da tecnologia, com preocupações com a privacidade e manipulação de dados para fins políticos.

Embora Sundar Pichai já tenha respondido em algumas ocasiões perante o Congresso norte-americano, o duplo cargo traz pressão acrescida a um dos executivos de topo do mundo tecnológico. Em comunicado, Sundar Pichai referiu que o cargo de CEO da Alphabet não lhe traz alterações ao dia-a-dia e que “continuará a contar com o apoio” dos fundadores da gigante tecnológica no futuro.

Fundadores da Google afastam-se da Alphabet. Sundar Pichai concentra poderes