Falámos com Johanna Nordell, responsável pela divisão Home Smart da Ikea, sobre como tecnologia e como os produtos inteligentes ajudam a separar o trabalho e a vida familiar dentro de casa.
Chama-se Johanna Nordell e é uma sueca que vive em Älmhult, no sul da Suécia, uma pequena localidade de 9 mil habitantes perto de uma floresta e de centenas de lagos conhecida por ter a primeira loja da Ikea, fundada em 1958 por Ingvar Kamprad, quando tinha 17 anos. Nordell lidera desde 2015 a divisão de Casa Inteligente, Home Smart, da Ikea depois de experiências em marketing e coordenação de projetos em Hong Kong.
Nesta altura, como boa parte das pessoas, trabalha de casa e falámos com ela numa conversa por videoconferência, onde nos explica que o facto da divisão se chamar Home Smart e não Smart Home não é inocente: “é porque na Ikea damos prioridade à experiência na casa e não há tecnologia por si só”.
A divisão de produtos conetados começou integrada como uma espécie de um “hobby” para a empresa, ainda em 2012, integrada na área de iluminação, daí que começou em termos de produtos por ter luzes inteligentes. Depois passou a ser uma unidade de desenvolvimento e desde há uns meses são já uma unidade de negócio, ou seja, têm mais investimento, fizeram crescer a equipa e têm espaço próprio nas lojas Ikea.
“Depois de experimentarmos produtos inteligentes na casa ficamos viciados e é impossível voltar atrás pela conveniência que dão”. Johanna admite que precisa de música ao acordar, vestir ou cozinhar e que tem medo do escuro. “Por isso adoro poder chegar a casa e a luz ligar-se automaticamente ou ir jantar e ter um modo que baixa os estores e coloca a luz mais suave, isto além de poder ter playlists de música definidas para cada momento e que fazem toda a diferença nesta altura de vida profissional e familiar em casa”.
Um botão que muda o ambiente da casa (com ajuda de uma app)
Sem demoras, passamos para um dos produtos mais entusiasmantes referidos na conversa e que tem chegada anunciada para este ano. Mesmo indicando que a sua divisão está a preparar vários produtos inteligentes que não pode revelar, Johanna Nordell faz uma revelação até por já terem havido fugas de informação.
“Vamos ter um produto incrível este ano, será uma pequena caixa com um botão que nos vai permitir selecionar que tipo de cenário ou ambiente queremos para determinada momento na nossa casa que definimos através da nossa app”. A gestora da divisão de Home Smart da Ikea fala com entusiasmo da novidade e dá exemplos: “podemos personalizar na app que para o jantar queremos um ambiente com estores para baixo e luz suave e uma playlist de música ou ter outro cenário para quando acordamos ou saímos de casa”.
O chamado Botão de Atalho ou Tradfri Shortcut Button requer a presença de produtos da Ikea (e não só) para poder controlar este tipo de cenários diferentes e soube-se da sua existência inicialmente por um pedido feito à autoridade de comunicações nos EUA. Na prática, são comandos pré-determinados para determinado tipo de momentos e que ativam os vários aparelhos inteligentes que possamos ter em casa para criar o cenário desejado. Existem opções semelhantes já integradas com os assistentes digitais da Google, Apple e Amazon.
Outro exemplo possível usando produtos Ikea é o cenário para ver TV poder baixar os estores Fyrtyr, aumentar o volume da coluna Symfonisk e a intensidade do ar condicionado e reduzir as luzes da sala. Cada cenário pode ser ativado pela Siri, Alexa ou Google Assistant através da app Ikea Home ou do próprio botão, até porque “fazemos questão de trabalhar com todas na Ikea”, diz-nos Johanna.
A ideia pode passar por ter botões em zonas diferentes, um pode estar no sofá e outro no quarto. Embora a responsável não tenha entrado em pormenores, fala-se que pode haver botões com ou sem microfone dependendo das necessidades com a possibilidade de se fechar as portas de casa automaticamente pelo botão. O novo produto concorre com soluções que a Amazon ou a Hue já têm.
“A atmosfera certa para cada momento faz toda a diferença”
Numa altura em que muitos têm de lidar com uma presença em casa fora do normal, onde conciliam a vida profissional e a vida familiar, tudo no mesmo espaço 24 horas por dia, Johanna Nordell admite que os produtos inteligentes “têm ainda mais valor para separar as águas”. “Nesta altura é ainda mais importante encontrar aquele balanço entre a vida pessoal e o trabalho e criar rotinas com a ajuda de soluções inteligentes faz a diferença até a nível psicológico”.
O primeiro conselho da responsável é acordar de manhã com uma rotina que inclua música para o momento e os estores a abrir devagar, sendo “aconselhável poder ter playlists de músicas ativadas por assistente digital para o pequeno almoço e, depois, para o trabalho”.
“O momento em que entramos em período de trabalho, mesmo em casa, deve ter a sua própria iluminação específica para trabalhar no computador e, para quem gosta, música apropriada para ajudar na concentração e ser menos importunado pela luz forte lá fora com ajuda dos estores mais baixos”. Tudo isso pode ser definido usando uma gateway que une os vários aparelhos inteligentes e é isso que a Ikea quer promover a nível de conetividade em casa.
Nordell admite que a atmosfera certo para cada atividade em casa, incluindo luz mais suave para o jantar antes de ir para a cama, influencia o bem estar e também a própria criatividade e produtividade, “as pessoas sentem-se mais inspiradas com o ambiente certo”. O mesmo acontece com a definição de pausas no trabalho, onde se pode “tirar alguns minutos para ouvir música mais descontraída e recarregar baterias”, diz.
Depois da Sonos, mais parcerias a caminho
Para já, em produtos conetados – o primeiro até foram carregadores sem fios, em 2015 -, a oferta da Ikea reduz-se aos estores inteligentes (automáticos, geridos por comando), iluminação inteligente e as colunas Symfonisk. “São dos produtos mais populares nesta gama conetada”, admite a responsável. A parceria com a marca de produtos aúdio Sonos permitiu criar “algo lindo e que se integra bem em qualquer casa, aproveitando bem a força de cada marca”. Além da coluna estante, existe a coluna que também é candeeiro.
“As pessoas têm adorado estes produtos de combinação que poupam espaço e ficam integrados. Não queremos gadgets com cabos espalhados, mas sim produtos que sejam belos, neste caso com bom som e integrados no resto da casa”, admite, deixando o slogan: “queremos mobilar com som a casa”. No caso da coluna que funciona como estante de livros, “pode ser montado com ganchos, em suspensão e tornar-se numa prateleira com som para a cozinha”, adianta Nordell, admitindo que os clientes têm apreciado “a versatilidade”.
No caso dos estores, “as pessoas apreciam que lhes dê privacidade e conveniência, porque deixam de ter de andar pela casa a baixar naquela altura do dia todos os estores quando querem momentos familiares”.
Para já não incluíram diretamente os assistentes digitais neste tipo de produtos “porque não quisemos avançar logo para ter microfones neles”, “mas eles podem ser usados associados a outros produtos com microfone”. Em breve haverão novos tipos de produtos inteligentes com novas parcerias, que ainda não pode revelar.
Camas robóticas e recicladores da água do banho: é este o futuro da Ikea?
Tendências de futuro: “quem sabe se os tablets vão substituir o móvel da TV”
A Ikea não tem necessidade de ser a primeira a usar alguns tipos de tecnologia. Embora admita que a empresa está muito curiosa sobre a capacidade da personalização e de uso de inteligência artificial, “a ideia passa por dar passos de bebé nesses avanços”: “o que queremos é resolver os problemas da casa e não necessariamente usar tecnologia só porque sim”, “temos de garantir que as ferramentas inovadoras já estão no ponto certo para usarmos e resolvem uma necessidade”.
A Ikea só avança para produtos conetados, garante Nordell, quando consegue garantir que eles sejam “simples e fáceis de perceber para poder chegar ao maior número de pessoas e não apenas aos amantes de tecnologia”.
Ideias para a casa não faltam e hoje há vários produtos, como mesas para CD que deixaram de fazer sentido para os clientes e para a própria empresa. No fim de contar, “até o próprio móvel da TV pode desaparecer com cada vez mais pessoas a consumirem os conteúdos num tablet”. A Ikea procura manter-se atualizada, mesmo que não avance rapidamente para produtos tecnológicos novos e “publica todos os anos o relatório Life at Home Report para entender a vida em casa e o que mudou dos dilemas às novas necessidades”, admite Johanna Nordell sobre “um futuro em casa imprevisível e em mudança”.
Tecnologia alimenta era do trabalho e vida remota em tempo de Covid-19
