Podcasts: Às gigantes tecnológicas já não basta dar-nos música

podcast, microfone
Foto: Pixabay

Há humor, desporto e até crime. De olho nas tendências, as tecnológicas ganharam apetite pelos investimentos no mundo dos podcasts, que já dão muito aos ouvidos mais atentos.

Não apareceram num piscar de olhos: há já largos anos que os podcasts são uma tendência, permitindo a quem os acompanha escolher que vozes e temas ouvir, onde e quando se quiser. É possível encontrar um podcast sobre praticamente qualquer tema e, ao longo dos últimos anos, num leque alargado de plataformas.

Se os primeiros arrancaram na primeira metade dos anos 2000, mais recente tem sido a atenção dada pelas tecnológicas a uma indústria que tem gradualmente conquistado comunidades. No Reino Unido, por exemplo, na primavera de 2020, 18% dos adultos ouviam podcasts numa lógica semanal (dados da Radio Joint Audience Research). Nos Estados Unidos, a percentagem é maior: em 2020, 49% da população entre os 12 e os 34 anos acompanhava com regularidade um podcast.

“Sem dúvida que as grandes tecnológicas perceberam que é um mercado que tem grande crescimento”, refere Márcio Barcelos, da Portcasts-Rede Portuguesa de Podcasts, que organiza o Podes, festival dedicado aos podcasts em Portugal.

O Spotify tem vindo a fazer sérios investimentos na área: em 2019, o serviço de streaming comprou a plataforma de distribuição de podcasts Anchor e a Gimlet, uma produtora. No caso da Gimlet, terá pago 200 milhões de euros – o valor mais alto para uma empresa desta área. Para Márcio Barcelos, a lógica do Spotify é simples: “Estão a controlar o mercado”, quase como um “reinado que inclui a faca e o queijo na mão”. Daniel Ek, CEO do Spotify, disse na altura que a empresa tinha até 500 milhões de euros para investir na área, com o objetivo de tornar o serviço “na maior plataforma de áudio do mundo”.

Sucederam-se investimentos para tornar podcasts de sucesso em exclusivos do serviço – garantir o podcast de Joe Rogan terá custado pelo menos 82 milhões de euros à empresa. O serviço também tem investido não em podcasts consolidados mas em personalidades: em 2019 assinou um contrato de exclusividade com o casal Obama e, já neste ano, com a cineasta Ava Duvernay.

Mas nem só o Spotify está interessado em aquisições. No fim de 2020 foi a vez de a Amazon anunciar a compra da produtora de podcasts Wondery, por um montante não revelado, indicando que seria uma mais-valia para o serviço Amazon Music.

No campo das suposições, fala-se também em movimentações da Apple e num possível modelo de subscrição de podcasts. “São movimentações que estão a acontecer de modo público, mas com muito pouca explicação”, reconhece Márcio Barcelos.

“Ainda estamos um bocadinho para ver aquilo que motiva os grandes players.” Já sobre as movimentações da Apple, o responsável da Portcasts recorda que a empresa “foi pioneira no sistema de distribuição”, detendo “a base de dados onde todos íamos buscar os podcasts” numa fase inicial. “Está como que a reagir”, nota.

E Portugal?
Por cá, o primeiro podcast, BlitzKrieg Bop, nasceu em 2005. “A informação que temos é de que, fora os mercados mais fortes, estamos numa situação muito parecida ao resto da Europa”, diz Márcio Barcelos, que recorda o papel “incontornável” que as rádios tiveram enquanto “grandes pioneiros e promotores do meio de podcast” em Portugal, pela “lógica on demand para consumir rádio”.

“Nos últimos anos houve uma grande aposta no crescimento de podcasts em Portugal”, especialmente a partir do momento em que começaram a surgir “projetos mais independentes”.

Humor, entrevistas, desporto, particularmente futebol e algum comentário político são os géneros mais frequentes, numa “representação saudável”. No entanto, Portugal parece escapar à tendência internacional, onde os podcasts de true crime são dos mais ouvidos.

“Não temos ainda na área do crime nada muito desenvolvido, mas já temos na área da investigação”, exemplificando com o caso do Fumaça. No crime, destaca o podcast Psicopatas Portugueses, de Joana Amaral Dias.

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