Micael Cruz, Ricardo Pestana e Sérgio Pinheiro são três jovens que mudaram de profissão ao aprender a arte das linhas de código. De jornalista, empregado de mesa ou operador de loja passaram a programadores e já não pensam sequer em mudar de área.
Não é segredo que há um défice de profissionais qualificados para a área das tecnologias de informação – tanto que as empresas são obrigadas a competir para conseguir recrutar programadores e engenheiros ligados à área da informática. A Celfocus, empresa ligada à Novabase, também não foge a essa realidade. Micael, Ricardo e Sérgio são três jovens que foram integrados nos projetos da Celfocus, após terem mudado radicalmente de profissão.
Micael era jornalista e produtor de televisão, Ricardo trabalhava como operador de loja e Sérgio mudou até de país. Todos passaram por um curso intensivo de programação, através de uma parceria da unidade Neotalent da Novabase, que tem como objetivo fazer frente às necessidades de recrutamento da empresa. Não são caso único dentro da Celfocus, que utiliza esta via da requalificação para fazer face às necessidades.
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A Celfocus, que tem como cliente único a Vodafone, é um também cliente da unidade Neotalent. Esta unidade do grupo Novabase tem uma parceria com a Academia de Código, que dá formação no mundo do código e programação, a adultos e até crianças. A ideia não é procurar apenas pessoas com formação na área – mas ajudar também no processo de transformação de quem demonstre interesse pelo mundo tecnológico e queira uma profissão para o futuro.
“Há uma forte procura por profissionais de IT, há cada vez mais, mas a procura também é cada vez maior, o que torna muito mais desafiante contratarmos hoje do que era há 5, 6 ou 7 anos. Todas as fontes de recrutamento, todas as áreas que saibam deste tipo de talento para nós são válidas enquanto forma de recrutar”, explica Nuno Carvalho.
Aprender a programar em tempo record
Micael está há mais de um ano e meio na Celfocus. Com uma licenciatura em ciências da comunicação, trabalhou ao longo de cinco anos na área de jornalismo. “Infelizmente, fiquei desempregado e, na altura, surgiu a oportunidade de fazer o curso da Academia de Código – um curso que era específico só para desempregados, um curso intensivo – que passa desde a área mais básica até à área mais técnica”. Para o ex-jornalista, a área já não representava “propriamente um desafio”. A parte de programar era uma desconhecida, mesmo que já tivesse interesse pela área da tecnologia.
“Nunca tinha programado, nunca tinha escrito uma linha de código. Numa conversa de café começou-se a falar na Academia de Código e resolvi experimentar”, explica.
Feita a candidatura, a parte seguinte envolveu estudo de linguagens de programação, para enfrentar a fase de seleção do ‘workshop’, que envolve testes online, a desafios e leituras necessárias. “Acabei por ficar selecionado para uma turma e revolucionou completamente o Natal de 2016, foi o melhor presente de Natal. Desde então tem sido sempre a crescer. Mudei de área profissional e acho que não podia ter feito melhor”, aponta Micael Cruz.
Além dos desafios, ainda refere o potencial de crescimento dentro da área: “é uma área com muito potencial de crescimento, muito entusiasmante para trabalhar, há pessoas excelentes a trabalhar connosco todos os dias”.
Também Sérgio Pinheiro sentia a necessidade do desafio. “Fui estudar para Coimbra aos 18 anos e achava que era a área da geologia que queria seguir, tanto que até fui tirar mestrado. Queriam que continuasse a fazer investigação na universidade, mas não havia financiamento e eu também não queria estar dependente de quem quer que fosse. Então decidi abandonar a área, largar esse pensamento e decidi comprar um bilhete só de ida para Londres”.
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“O pensamento era retomar a investigação na área e também aprender mais inglês. Fui para lá, trabalhei num pub durante um ano. O inglês aprendi mas a área continuava difícil”, recorda. Decidiu mudar-se para Edimburgo, na Escócia, onde diz que começou “a pensar na vida”, apesar de recordar a experiência positiva – e até confessar ter algumas “saudades de ser barman”.
“Já tinha ouvido falar sobre a Academia de Código, sobre a empregabilidade que tinha”. Confessa que o bichinho da área da tecnologia sempre existiu. “O meu irmão tirou engenharia informática e fiquei um bocado invejoso porque ele no dia a seguir a acabar o curso estava a trabalhar e eu tinha mandado centenas de currículos e nada. O meu cunhado também, o meu primo… Há vários casos na família”.
Após alguma hesitação, candidatou-se, ainda em Edimburgo. “Decidi e acho que foi a melhor decisão que podia ter tomado. Fiquei radiante quando soube que tinha entrado”. Na entrada na Celfocus, Sérgio foi colocado no mesmo projeto de Micael e refere que isso ajudou no processo de integração.
“Dizia-lhe que tinha medo de que as pessoas percebessem que eu não entendia nada daquilo”, recorda, entre risos. “Fui percebendo que entendia muito mais do que aquilo que pensava”.
Mudar de área? “Nem pensar”
Quando questionados se ainda ponderam mudar de área de trabalho, a resposta é rápida e quase em uníssono: “nem pensar”. Referem o respeito dentro da área e o desafio como uma fonte de motivação. “Uma das coisas que nos motiva tanto é que isto é mesmo uma área de futuro e onde temos plena consciência de que conseguimos fazer uma carreira. Há uma perspectiva de progressão de carreira que podemos fazer para 10, 20, 30 anos. É mesmo algo que preenche”, argumenta Micael Cruz.
“Não tenho um curso superior, portanto não me enganei no curso”, brinca Ricardo Pestana, após ouvir o percurso académico dos colegas de empresa. De operador de loja, passou a FullStack developer. Deixou a matemática do 12.º ano pendente – “precisei de começar a trabalhar. Corri algumas cadeias de supermercado, as mais conhecidas.”
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Mas isso não era suficiente – outro ponto comum que partilha com os colegas da Celfocus. “Comecei a pensar na minha vida e percebi que não me sentia realizado. Sempre quis algo relacionado com programação, sempre quis fazer alguma coisa de novo e sempre quis ir para casa e pensar que o meu trabalho significasse alguma coisa, que não fosse só atender clientes ou vender alguma coisa”, recorda.
E a culpa da mudança foi… do Google. “Apareceu um anúncio. Comecei a perguntar a alguns amigos que trabalhavam na área coisas sobre a Academia e falaram-me bem. “Fiz o curso, comecei a aprender as coisas e recebi uma oferta para a Celfocus. Agora já não vendo nada”, brinca, “sinto que estou a criar alguma coisa”.
E relativamente ao processo de integração? O trio partilha a experiência positiva, sendo que Micael foi o primeiro dos três jovens a chegar à Celfocus. “A experiência tem sido espetacular”, diz Ricardo, o ‘benjamim’ entre os três.
“Comecei em maio e já aprendi uma data de tecnologias novas, não dá para comparar a pessoa que era no início do ano com a pessoa que sou agora”.
“Não é só de uma via, eu a pedir ajuda: há também muitas coisas que eles também não sabem porque nunca se depararam com isso. É interessante perceber que eu também posso ajudar pessoas que são seniores há dez anos, que por algum motivo nunca apanharam aquele problema. A integração não é só aquilo que recebemos, também é aquilo que consigo dar”, explica.
Micael alinha na mesma ideia. Tendo já passado por vários projetos dentro da tecnológica, refere a constante necessidade de atualização de conhecimento. “Temos consciência de que não tendo uma licenciatura ou mestrado como muita gente na área tem no mercado, temos noção de que é preciso dar o ‘extra-mile’, temos de ir mais longe”. Para corresponder a essa lógica, Micael refere que sente a necessidade de estar “constantemente a estudar”.
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