Centro de Matosinhos mostra primeiro sistema de sustentabilidade mundial que cria moeda local, os AYR, para premiar quem emite menos CO2 para a atmosfera.
Chama-se AYR Platform é o primeiro sistema de gestão de sustentabilidade das cidades mundial que permite não só quantificar as emissões poupadas de CO2, como valorizá-las e, depois, transacionar créditos (com ajuda do blockchain) sobre o que se poupou. Pensado, criado e desenvolvido no CEiiA (Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produto) em colaboração com as Nações Unidas (ONU), o projeto ambicioso quer criar uma verdadeira moeda local e incluir o máximo número de parcerias, das cidades às empresas. A apresentação oficial, depois de 23 meses de trabalho, com 70 a 80 pessoas envolvidas, é feita terça-feira, 14 de maio, em Nova Iorque, no evento Smart Cities New York, promovido pela ONU.
“Testámos o sistema em Cascais e Matosinhos e há um potencial enorme de criar novos modelos de negócio que ajudem o ambiente até porque o valor das emissões poupadas tem um valor económico que pode ser transacionável, indexada à taxa de carbono”, explica-nos o CEO do CEiiA, José Rui Felizardo. O responsável do centro que nasceu na Maia em 1999 (está hoje em Matosinhos) deixa a questão: “Porque é que não podemos pagar o estacionamento com créditos de emissões de CO2 poupadas?”
Pedro Gaspar, diretor de Novas Tecnologias de Negócio do CEiiA, não esconde o entusiasmo com a ferramenta que é feita “para ter alcance mundial, mas que se adapte bem aos contextos locais”. A proposta chega a Nova Iorque com dois objetivos, “mostrar o trabalho de fundo feito com a ONU para a descarbonização” e “a procura de parceiros mundiais para o projeto, não só as cidades mas também as empresas privadas”.
Atualmente há várias empresas que pagam pelas emissões de carbono que produzem, o sistema tenta criar uma nova forma de sustentabilidade e começar a compensar os milhões de pessoas que poupam nas emissões. “A não criação de CO2 tem valor e deve ser recompensada com incentivos, ao contrário do modelo atual”, explica Pedro Gaspar, que lembra que não se trata de um comportamento passivo, mas sim ativo, de tomar decisões no dia a dia “que protejam o ambiente e o nosso planeta”.
O diretor explica que o projeto nasce da preocupação do CEiiA em “criar soluções contra as prejudiciais emissões de CO2 para a atmosfera, que têm consequências sérias para a saúde e produtividade, com os encargos nos sistemas nacionais de saúde”.
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E como é que funciona o sistema?
Tudo será integrado numa app, que dá acesso a uma carteira virtual onde os AYR são depositados e podem ser usados nos serviços e produtos (sustentáveis) que os parceiros disponibilizarem. O valor de emissões poupadas é colocado num chamado token (uma espécie de moeda) baseado na tecnologia blockchain, “o que torna o processo auditável, seguro e rastreável”.
“O mais importante é que os parceiros criem novos modelos de negócio em cima da nossa plataforma”. Daí que Pedro Gaspar considere o novo conceito de “uma autêntica revolução que coloca o ser humano no centro da sustentabilidade, ao contrário dos sistemas atuais”, o que irá permitir, diz, “dar a possibilidade a cada um de tomar as melhores opções para o planeta com incentivos a sério”. “Muitos dizem: ‘só eu não faço a diferença’. Mas em escala, com incentivos para mudar comportamentos e a criação de hábitos mais sustentáveis, juntos podemos fazer uma diferença massiva”, diz com entusiasmo.
O responsável admite que, por defeito, as pessoas não gostam de mudar de comportamentos. “A ciência diz-nos isso mesmo, mas estamos numa corrida contra o tempo. Temos 11 anos, até 2030, para cortar 45% das emissões de CO2, se não fizermos isto as consequências para o ambiente serão dramáticas”. Por isso, apelida o AYR de: “um reforço, que somos todos nós (com a ajuda de uma recompensa económica), nessa batalha contra as emissões!”
O modelo criado está pensado para servir todo o mundo, com adaptações locais para dar contexto às soluções que será sempre fundamental. “Tudo vai depender dos parceiros, autoridades locais e das pessoas, porque o sistema permite que haja ganhos para todos”.
A plataforma é desenvolvida em tecnologia open source, com soluções de software desenvolvidas pelo CEiiA. “O objetivo é permitir que a adesão de parceiros seja simples e rápida, por isso, vamos abrir os chamados APIs e um software development kit que permite a conjugação de outras plataformas com a nossa”. A partir daí, os parceiros com atividades que permitam poupar CO2 podem integrar a sua atividade e valorizá-la na plataforma. “A descarbonização é a nossa métrica de sucesso, não é ganhar dinheiro, embora é normal que exista uma taxa para nos ajudar a pagar todo o desenvolvimento”, admite Pedro Gaspar.
Certo é que “a expetativa é alta”, faltam que os parceiros ‘chovam’ em Nova Iorque.