Muito mais do que um divertimento, para André Santos, os videojogos são uma forma de levar para o mundo real e empresarial benefícios muito claros. O responsável do GameLab da consultora Bee Engineering explica-nos porque a divisão está a crescer e a fazer a diferença.
Experiente em ajudar a criar, testar e promover videojogos, o seu cargo atual diz pouco à maioria das pessoas. André Santos é responsável de produto e líder do novo projeto de GameLab da consultora Bee Engineering, que faz parte de um grupo francês com várias empresas pela Europa. E o que faz então? “Criámos a GameLab para dar soluções digitais com recurso à chamada gamification, que mais não é do que a aplicação das mecânicas dos videojogos à vida real”.
Neste caso, criam mecânicas ou sistemas com várias etapas ou níveis, recompensas e formas diferentes de cativar o interesse ‘dos jogadores’ que, neste caso, são os funcionários de empresas em certos projetos. O objetivo final é que os projetos sejam mais eficientes e criativos e contem com trabalhadores mais motivados. “Os jogadores tornam-se autodidatas porque descobrem o melhor engenho e a melhor tática que os ajuda a ganhar, tudo baseado em mecânicas que podem e devem ser transposta para o desempenho e motivação das pessoas no mundo real”, explica o especialista.
Mas não é sempre como muitos pensam, com medalhas ou recompensas diretas, “que limitam ao longo do tempo a motivação do jogador e só funcionam para períodos curtos”. O objetivo acaba, assim, por ser olhar para os videojogos para ajudar a criar “soluções mais ricas e interessantes para as empresas, envolvendo sistemas de narrativas que ajudam os utilizadores a estarem mais interessados no que se está a passar e a sentirem-se mais envolvidos e com um propósito maior nos projetos.”
O GameLab tem permitido aumentar essa oferta para as empresas, graças a uma plataforma chamada Bee Brave, que “mede o progresso e a motivação ao longo do tempo e permite soluções de consultoria mais personalizadas”.
A Bee Engineering tem crescido em Portugal com soluções deste estilo, indica André Santos, apostando forte em pesquisa e desenvolvimento usando soluções tecnológicas para levar produtos para o mercado. “Começaram em 2013 como startup, com quatro ou cinco pessoas cá, agora somos 180 em Portugal e faturamos cinco milhões de euros por ano”.
Quanto pode valer um jogo? Para Ninja, um pagamento de um milhão de dólares
Criar jogos para promover marcas
Para a equipa recente do GameLab contrataram apenas pessoas que já trabalharam em videojogos, de designers de jogos, a artistas gráficos, programadores, entre outros, isto porque querem explorar os chamados Advergames. “Além do chamado gamification, queres apostar em jogos pré-concebidos para oferecer às marcas, que os podem adaptar para uma campanha nova ou o lançamento de um produto”.
André Santos admite que a solução ajuda na ativação das marcas no Google, Facebook, em campanhas de rua ou eventos como festivais de verão, “permitindo comunicar e entreter as pessoas ao mesmo tempo”.
Foi isso que fizeram o ano passado num projeto para uma grande empresa nacional. “Criámos um jogo musical, baseado no Guitar Hero, onde as pessoas jogavam e tocavam para ganhar bilhetes duplos para o Rock in Rio”. A experiência que “correu muito bem” é para repetir até porque “todos sabemos o poder que os videojogos têm nas gerações mais novas, cada vez mais, como se vê em jogos como o Fortnite”.
Leia também | Serviço de streaming de videojogos da PlayStation chega a Portugal
Da Electronic Arts para jogos nacionais
Com cursos na ETIC, em multimédia, e na EDIT, em marketing, André Santos começou na Concentra, em Portugal, onde, entre outras funções, analisava jogos e o mercado da Nintendo e em 2009 chegou à Electronic Arts. Naquela que é uma das principais marcas de videojogos do mundo, testava alguns dos jogos nos escritórios de Madrid da empresa, sendo peça importante para assegurar a sua qualidade.
“No centro de testes de Madrid fazia parte de uma grande equipa que fazia a validação dos produtos, que são bem complexos”. Mas das oito horas diárias de trabalho, apenas algumas eram passadas a jogar. “O trabalho de testing é muito mais do que jogar o jogo, perto de metade é a jogar, o resto é a escrever e descrever os problemas no produto, a fazer relatórios e a discutir o tema”, explica.
O videojogo mais mediático em que esteve envolvido foi o FIFA 14, depois teve outros mais pequenos da gama dos Sims. Seguiu-se um regresso a Lisboa, ainda na Electronic Arts, para trabalhar mais na vertente da imagem da marca e do marketing. “Vemos o que satisfaz os clientes numa marca forte como esta e a nível pessoal fez-me crescer bastante”.
Em 2015 entrou como responsável de produto na Bica Studios, uma startup portuguesa de jogos para aparelhos móveis, onde aumentou de responsabilidades e teve de ser mais versátil do que nunca, “num trabalho que foi evoluindo à medida que a empresa ia ganhando força”. Saiu em 2017 para o desafio na Bee Engineering.
Google quer subir às nuvens para ser player 1 nos jogos… mas há desafios a enfrentar