É investigador num dos mais prestigiados institutos de ciência no mundo, o MIT, e está a ajudar a tornar a fusão nuclear possível na próxima década. Nuno Loureiro, em conversa com a Insider, revela-nos as vantagens da investigação e as vantagens de trabalhar no cobiçado MIT.
Nuno Loureiro, professor e investigador do reputado MIT (Massachusetts Institute of Technology, em Boston, nos EUA), nasceu em Viseu há 41 anos e desde os 17 que vive fora da sua terra natal. Em 1995 foi estudar para Lisboa. O curso de Física, no Técnico, foi uma boa surpresa. “O ambiente era contagiante, com pessoas de muito valor e quem chegava lá, como eu, como o melhor aluno da escola de onde vinha, encontrava outros ainda melhores”.
Os jovens inteligentes e muito bem preparados encontravam assim um ambiente estimulante “que incutia em cada um de nós vontade de nos excedermos”. A paixão pela investigação na área nuclear – está no departamento de ciência nuclear e engenharia (NSE) do MIT – começou ainda no curso. “Os professores tinham carreira interessantes a nível científico e inspiravam-nos”.
Nuno também passou pelo Imperial College para fazer doutoramento e aí as portas abriram-se para outros voos. Esteve em Princeton (pós-doc), voltou a Inglaterra e ao Técnico, até que foi convidado para o MIT. “Estava focado na fusão nuclear, por achar que tinha potencial de uma revolução energética com resultados possível no meu tempo de vida”, admite com entusiasmo.
Hoje trabalha em áreas que contribuem para a fusão nuclear. Estuda a turbulência de plasmas, seja no sol, no vento interestelar ou nos plasmas nucleares. “Tudo isto tende a existir num estado turbulento, tentamos perceber como funciona”. Depois estuda também a reconexão magnética, que é o que dá origem, por exemplo, às explosões solares. O estudo nas duas áreas contribuem para a fusão nuclear, uma forma de energia que promete há décadas revolucionar o planeta.
Nuno Loureiro dá um exemplo: “Quando temos um café quente e o queremos arrefecer, usamos a colher para o mexer. É a turbulência que fazemos nesse processo que permite dissipar o calor e que o café arrefeça mais depressa”. Acontece o mesmo com os plasmas (sol, vento interestelar ou os tais plasmas nucleares, “que tendem a existir num estado turbulento”). “Os plasmas causam a sua própria turbulência e o objetivo é ter o plasma dentro de um espaço, a 100 milhões de graus centígrados”. Nuno, explica-nos, entusiasmado: “parece impossível, mas isso já foi feito, já conseguimos”.
Mas ainda não conseguiram fazer fusão nuclear. “Perceber como resolver o problema da turbulência é um passo fundamental para resolver a fusão nuclear, que também permite perceber os objetos em astrofísica”. É essa parte sobre a qual o investigador mais se tem debruçado, tentando perceber os processos que estabelecem a temperatura à superfície do sol ou como funcionam os buracos negros.
Promessas por cumprir
O investigador português admite que as promessas atuais são as mesmas há várias décadas e cita uma piada, que se conta na área da fusão nuclear: “há 40 anos, um físico russo disse que a fusão nuclear está a 30 e sempre estará a 30 anos de distância”. Sobre o tema, admite que existe uma parte da investigação influenciada por completo pela política. “Não são coisas separáveis, já que a investigação em fusão nuclear custa muitos milhões de dólares e exige um investimento contínuo e elevado”. Como isso não tem existido e há uma flutuação devido aos intervalos políticos de quatro ou cinco anos, “a investigação atrasa-se”.
Neste momento, há alguma esperança mundial num projeto europeu (mas de colaboração de outros países fora da Europa) de fusão nuclear chamado ITER, que está a ser desenvolvido há alguns vários anos no sul de França, com grandes atrasos e custos acima do esperado. “Tem havido muita insatisfação pelos atrasos sucessivos e não é certo que apresente os resultados pretendidos”.
O objetivo é poder comprovar a exequibilidade da fusão em 10 ou 15 anos e não em 30 ou 40, como parece ter sido os indícios. “Tenho esperança que aquilo que estamos a desenvolver no MIT e noutros locais, mostre a exequibilidade da fusão nuclear em 10 ou 15 anos, mas comercializar vai demorar mais tempo”, explica.
Para chegar a bom porto na próxima década, Nuno Loureiro deposita grandes esperanças na tal ideia recente desenvolvida no ‘seu’ MIT: “está alicerçada em inovações tecnológicas recentes, que nos entusiasmam e nos faz acreditar que podemos chegar onde queremos nos tais 10 a 15 anos”.
O projeto em causa já saiu do papel, chama-se Sparc e tem financiamento privado “de empresas mundiais que percebem a importância da fusão”. Um dos financiadores é uma organização chamada Breakthrough Energy, que tem 28 investidores de 10 países. E quem são? Bill Gates é o investidor mais significativo, tendo investido dois mil milhões de dólares, mas há mais e bem famosos: Jeff Bezos, o líder da Amazon, Richard Branson (da Virgin), Jack Ma (do grupo Alibaba), George Soros (magnata húngaro-americano) e… Mark Zuckerberg.
Uma investigação bem sucedida “vai dar energia ilimitada ao planeta e a todos, com bem menos preocupações em relação aos gases de estufa e ao preocupante aquecimento global e que deixe a humanidade fora da dependência do petróleo e de outros combustíveis”. No entanto, o investigador acredita que a energia pode nem ficar muito mais barata, mas o potencial é ilimitado.
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A vida no MIT: de sonho
No MIT encontrou tudo aquilo com que podia sonhar, uma equipa talentosa, alunos e colegas brilhantes, ideias incríveis a flutuar pelo campus e contacto diário com investigadores notáveis mesmo noutras áreas. Daí que não tenha planos para voltar. O seu dia a dia envolve orientação de alunos, principalmente de doutoramento, e também lecciona em cadeiras de doutoramento e mais especializadas. “Gosto de trabalhar com os alunos em projetos de investigação”.
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