Quais seriam as caras do governo (de sonho) para um Portugal digital?

    A DN Insider desafiou sete experts em talentos, a maioria headhunters, a eleger a dream team que poderia governar Portugal, com um objetivo: tornar o país uma referência digital.

    Ser a melhor nação em sol e praia, no festival da canção ou no futebol não chega. Esta é uma votação livre, sem preconceitos nem amarras, que pretende apontar caminhos para um futuro mais tech e mais competitivo.

    Quem são os membros deste júri? Pedimos ajuda a Pedro Santa Clara, professor da Nova SBE e presidente da Fundação Alfredo de Sousa; Maria da Glória Ribeiro, managing partner da AMROP; Guilhermina Vaz Monteiro, managing partner da Lukkap Portugal e Rosa Silva, managing partner da Signium. Bruno Contreiras Mateus, editor executivo da DN Insider e head of digital do Dinheiro vivo e Rosália Amorim, diretora editorial da DN Insider e do Dinheiro Vivo também contribuíram para estas escolhas.

    O método da escolha pelo júri recaiu em todos os setores, da academia à política, até às empresas, desde que os nomes indicados não fizessem parte do atual governo, pois essas pessoas já participam e formam um executivo.

    José Neves seria Primeiro-ministro desta dream team

    Um primeiro-ministro para um Portugal digital? “O CEO da Farfetch está a dar cartas na Big Apple. Soube reinventar o negócio do retalho de luxo, assente na tecnologia, e é um visionário”, afirma Rosa Silva, managing partner da Abylos Trends and Consulting.

    O país e a economia “precisavam de um visionário como este”, concordam outros elementos do júri (veja a composição e os critérios de escolha, mais à frente, na ficha técnica). Quem vota enaltece ainda a forma como José Neves conseguiu transformar a empresa no primeiro unicórnio português e a maneira como catapultou o país no estrangeiro.

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    Entre as competências mais enaltecidas deste gestor, “sobressai a forma de gerir equipas e de se rodear dos melhores talentos dentro da organização, algo de que o país também precisaria”, complementam, “além da visão tecnológica”. Apesar de ser um dos portugueses mais ricos, já listado pela Forbes, tem uma personalidade muito discreta e que é elogiada pela forma como poderia ser uma mais-valia no desempenho de funções governativas.

    Aos 44 anos, José Neves assume-se como um “verdadeiro faz-tudo”, que não tem medo de arregaçar as mangas e de dar o exemplo. O facto de viver em Londres há vários anos, mas viajando a Lisboa com frequência, também lhe dá a capacidade de analisar o país a partir de fora, com um sentido crítico apurado e sem ficar preso a lobbies, sublinham elementos do júri.

    Bento Correia, o Ministro dos Negócios Estrangeiros da dream team

    Fundador e chairman da Vision-Box, empresa líder mundial em soluções de identidade. Na prática, desenvolve sistemas integrados de controlo automatizado de fronteiras, gestão de fluxo de passageiros e de gestão de identidade eletrónica para o cidadão, e tem inovado na conceção e produção de tecnologia de ponta na área da biometria.

    As competências que Bento Correia desenvolveu nesta área fazem que seja eleito pela forma como poderia gerir as fronteiras, pensar o papel do cidadão no âmbito da União Europeia e fora dela e estar alerta para os temas da cibersegurança – que o próprio diz que é menosprezada em Portugal -, e  que deveriam ser uma prioridade nacional e ainda não o são.

    Por tudo isso, reúne vários votos. A sua visão digital levou a empresa à liderança mundial neste segmento e isso poderá ser um bom ponto de partida para assumir a pasta dos Negócios Estrangeiros.

    Paulo Rosado, Ministro da Presidência e Modernização Administrativa do governo tecnológico

    O pai de um unicórnio português, a Outsystems de que é CEO, reúne vários argumentos apresentados pelo júri para ser o escolhido para esta pasta importante do governo: “O talento de conquistar o mundo, entrando em vários mercados e junto de clientes multinacionais.”

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    Tem “o dom e a simplicidade de colocar todos à conversa em prol da inovação, da construção de algo melhor, o que numa função ministerial como esta seria muito útil”.

    “Usa uma linguagem simples e exemplos concretos de como a tecnologia pode ajudar a fazer melhor, e que toda a gente percebe, o que muita falta faria para dar um salto na modernização administrativa”.

    Ministro da Defesa Nacional do governo digital: Miguel Morais Leitão

    Alia a experiência política à de gestão. Foi secretário de Estado do Tesouro e das Finanças, secretário de Estado dos Assuntos Europeus, secretário de Estado adjunto do vice-primeiro-ministro Paulo Portas, entre outros cargos, mas “é no Ministério da Defesa Nacional que eu revejo o Miguel Morais Leitão, com skills que possam diferenciar a situação em que nos encontramos atualmente e com o que queremos ter no futuro”, argumenta Felipa Xara Brasil, membro do júri e managing partner da Signium.

    Desenvolveu grande parte da carreira no grupo BPI e foi presidente da Empordef, da Edisoft e da OGMA, onde adquiriu competências que “lhe permitam ter potencial para liderar a Defesa Nacional”. As empresas por onde passou assentam em tecnologia e essa experiência será valiosa para este novo cargo, completa o júri.

    Nuno Sebastião seria Ministro das Finanças

    “Se é para modernizar as Finanças voto já no Nuno Sebastião”, disse um dos elementos do júri logo na primeira abordagem para esta votação. O nome do cofundador da Feedzai foi votado para várias pastas mas foi nas Finanças que ganhou.

    “É CEO de uma das startups portuguesas mais promissoras e reconhecidas internacionalmente a operar no big data, em particular nas áreas de deteção de fraude em tempo real e de tecnologia antilavagem de dinheiro”, explica, por exemplo, Maria da Glória Ribeiro. “Possui o know-how tecnológico e a visão de futuro para a modernização tecnológica do país”, diz a mesma headhunter e concordam outros elementos do júri que votaram nesta eleição.

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    Entre as competências do eleito destaca-se o conhecimento antifraude e antilavagem de dinheiro que o júri considera que poderia ser muito útil nas Finanças.

    O jovem  estudante de Engenharia Informática e que “queria muito ir para Silicon Valley” é hoje uma referência tecnológica mundial.

    Nuno Flores seria escolhido para Ministro da Administração Interna

    O CEO da Introsys é “um caso sério de  empreendedorismo de sucesso num setor tão exigente como o da tecnologia de ponta”, afirma Rosa Silva, managing partner da Abylos. Fundador e gestor, Nuno Flores desenvolve software e robótica com várias aplicações, sendo as principais a indústria automóvel mas também a segurança.

    A BMW, a Siemens ou a ThyssenKrupp utilizam os seus robôs em fábricas de todo o mundo. Quinze anos depois de surgir a ideia durante um jogo de bilhar de dois irmãos, e numa época em que a inteligência artificial e a automação estão na ordem do dia, a Introsys foi distinguida pela COTEC com o Prémio PME Inovação.

    Hoje tem robôs seus em todo o mundo. Tem máxima atenção à inteligência artificial, à segurança e prevenção, à eficiência e Nuno Flores tem a capacidade de fazer que os robôs passem de nossos inimigos a amigos, o mesmo que por vezes seria necessário fazer com as forças da Administração Interna, comenta outro membro do júri.

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    Do mesmo modo, o uso da inteligência artificial será uma tendência em crescendo em pastas ministeriais como esta e na qual Nuno Flores pode dar um contributo válido.

    Ricardo Mendes seria Ministro da Justiça deste governo digital

    Se há ministério que precisa de salto de tecnologia e de modernização, a Justiça vem no topo da lista. Para todos os elementos do júri não foi mesmo nada fácil encontrar um futuro governante tecnológico para esta pasta. Ricardo Mendes, administrador e cofundador da Tekever, reuniu as preferências pela capacidade inovadora e desafiante que teria caso entrasse porta adentro pelo Ministério da Justiça e pelos corredores dos tribunais.

    Qualquer um que faça parte do sistema e do ecossistema da justiça dificilmente terá carta branca, como tal o júri foi arrojado e escolheu um nome fora da caixa, “sem vícios, sem prisões a lobbies”, comentam alguns. A Tekever tem percorrido um caminho de sucesso na área da Tecnologia de Informação e nas divisões Aeroespacial, Defesa e Segurança, contando com escritórios em cerca de meia dúzia de países.

    Da sua lista de clientes fazem parte a Agência Espacial Europeia e a Shanghai Engineering Center for Microsatellite (SECM), Ministério da Defesa britânico, Forças Armadas colombianas, Marinha Brasileira e Exército Português, a Marinha Portuguesa, a GNR e a PSP, entre outras.

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    Sofia Tenreiro assumiria a pasta do Ambiente

    É a diretora-geral da Cisco Portugal. Conhece de perto as grandes empresas nacionais, mas também as startups.

    “Tem uma enorme energia e grande paixão por tudo o que faz, características que, aliadas ao seu foco na sustentabilidade e grande insight no que concerne a transformação digital, fariam dela uma ministra do Ambiente capaz de estruturar um ministério mais tecnológico e focado em objetivos sustentáveis”, argumenta Maria da Glória Ribeiro, managing partner da AMROP.

    Antes da Cisco, esteve oito anos na Microsoft, tendo começado a carreira na Procter & Gamble e passado por empresas de diversos setores, como a L’Oréal Espanha ou a Sonae (no jornal Público). É formada em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Católica.

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    Miguel Pinto Luz seria Ministro da Cultura

    Foi nomeado para várias funções na dream team, mas é na Cultura que vence. Atualmente é o vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, mas “Miguel Pinto Luz não é um político normal. Não é, sobretudo, mais um. É um engenheiro, um disruptivo, um homem de visão”, argumenta Pedro Santa Clara,  da Nova SBE, quando decidiu nomeá-lo.

    “A sua rapidez de raciocínio e a sua forma simples e eficaz de tudo resolver são características de futuro.” O trabalho desenvolvido na autarquia de Cascais criou várias referências internacionais e colocou a cidade na agenda mundial, seja do ponto de vista tecnológico, da mobilidade ou da própria cultura.

    A forma como o eleito interliga todos estes temas na agenda política dão-lhe características para gerir a área da cultura de forma intermodal e intercultural, até porque a cultura requer, cada vez mais, competências tecnológicas que o nomeado já tem desenvolvidas, consideram vários elementos que integram o júri.

    Rui Paiva seria Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

    É fundador e CEO da WeDo Technologies e tem as competências certas para assegurar um bom desempenho nesta pasta, consideram elementos do júri.

    Guilhermina Vaz Monteiro, por exemplo, cita algumas das “ideias de Rui Paiva para um sistema educativo mais eficaz e alinhado com as necessidades do país e das empresas: uma parte significativa dos subsídios à cultura deveriam ir para a Ciência, Tecnologia e Ensino Superior; dotar a Fundação para a Ciência e Tecnologia de um advisory board, formado pelas principais empresas portuguesas; dois caminhos alternativos no segundo ciclo de escolaridade com um mais educacional e um mais profissional; 75% por cento das licenciaturas devem seguir a procura do mercado e, por fim, o serviço cívico ou militar deve ser aplicado aos nem-nem (nem estudam nem trabalham’”.

    Daniel Traça seria Ministro da Educação

    É o dean da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), agora com um campus universitário de nível internacional e recém-estreado em Carcavelos. Traça “um empreendedor e inovador”, é mais do que um professor e tornou-se “um líder de uma referência académica” e é um  “impulsionador que conseguiu elevar a Nova SBE a um novo patamar de excelência”.

    São argumentos como estes que fazem que vários elementos do júri escolham este talento para assumir a pasta da Educação. Na opinião do júri, “o que fez com a Nova SBE, seguramente poderia fazer o mesmo com a pasta da Educação”. Licenciou-se em Economia. Como bolseiro Fullbright fez o mestrado e doutoramento na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos da América, e voltou à Europa como professor no INSEAD, em França, depois de ter passado pelo polo de Singapura, onde ainda hoje leciona algumas semanas por ano.

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    Posteriormente, ingressou na Solvay School of Economics and Management, na Bélgica, e ocupou a Marie et Alain Philippson Chair in Managing for Sustainable Human Development assumindo também as funções de vice-presidente e diretor dos programas de MBA.

    Miguel Santo Amaro, o Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social deste governo digital

    É cofundador e o CEO da Uniplaces. No início de 2012, com mais dois amigos, criou uma empresa digital de alojamento universitário. Desde então, já muito aconteceu a este talento português. A Uniplaces teve a maior ronda de investimento Série A numa startup portuguesa, com 22 milhões de euros angariados.

    Sediou-se na estação do Rossio, em Lisboa, numa inauguração que contou com a presença do primeiro-ministro António Costa. Explorou novos mercados. Fez mais de uma centena de contratações. Tornou-se um colosso do empreendedorismo português e Miguel Santo Amaro mereceu destaque na revista Forbes Europa, junto com os outros dois cofundadores da Uniplaces, na lista dos 30 talentos abaixo dos 30 anos. Por tudo isto, o júri nomeou-o para este cargo ministerial.

    Maria da Glória Ribeiro resume os pensamentos que estão por detrás dos votos: “Dirige uma das mais bem-sucedidas startups portuguesas e tem um olhar fresco sobre futuro do mercado de trabalho e da sociedade, o que faria dele um ministro atento à inovação em todos os setores da sociedade”, afirma a managing partner da AMROP.

    Miguel Lupi seria Ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural

    Ficou conhecido por criar uma empresa que ajuda a saber de onde vem o que cada consumidor come. A Faarm é a startup que fundou.

    Miguel nasceu no Porto, tem 33 anos, e formou-se em Engenharia Florestal, no Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa. Com o sócio, João Gomes, fundou a empresa em 2015, uma startup que desenvolve soluções tecnológicas que ajudam a rastrear de onde vem aquilo que consumimos.

    Um ano depois, a empresa ganhou a edição do programa da Startup Lisboa Boost, tendo por isso merecido um investimento de cem mil euros pela Caixa Capital. Esta não foi, porém, a primeira vez em que a Faarm foi objeto de distinção. Com a Muu, plataforma de gestão colaborativa para o setor de bovinos, a Faarm foi uma das vencedoras do concurso Startup Simplex.

    José Xavier, o Ministro da Saúde desta dream team

    É fundador e CEO da EFFY. Revelou  que vai contratar dezenas de programadores em Portugal e planeia investir três milhões de euros no país até 2020.

    “Apoiado na sua experiência e no aproveitamento da tecnologia RAID para a área da saúde, seria o ministro ideal para aumentar a eficiência e modernizar o setor da saúde na sua globalidade”, considera Maria da Glória Ribeiro, um dos sete elementos do júri.

    O gestor tem a energia e o conhecimento certos para modernizar um ministério que ainda não acompanha o paradigma 4.0.

    Tiago Paiva lideraria o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas

    É o rosto do mais recente unicórnio nacional, a TalkDesk. Foi fundador  em 2011, com Cristina Fonseca, e é o atual presidente executivo. “Focado e inovador, com a experiência de otimização de desempenho que a TalkDesk possui e oferece aos seus clientes, seria ideal para o desenvolvimento da pasta do Planeamento e Infraestruturas”, argumenta Maria da Glória Ribeiro.

    Tiago foi eleito o 24.º melhor líder mundial em empresas de desenvolvimento de software enquanto serviço (SaS), segundo a publicação SaaS Report. É o único português na lista, divulgada em setembro último. Recentemente, a startup foi uma das cem empresas europeias destacadas pela revista Wired, no Reino Unido. O que tem de especial? Desenvolveu um software para contact centers na cloud (nuvem), que promete ajudar as empresas a melhorar a interação com os clientes.

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    João Vasconcelos ocuparia o cargo de Ministro da Economia

    “É mais do que um embaixador, é um impulsionador de Portugal no mundo”, considera Rosa Silva, managing partner da Abylos, na hora de nomear João Vasconcelos para a pasta da Economia.

    O antigo secretário de Estado da Indústria inspira vários elementos do júri pela sua capacidade de iniciativa, conhecimento do tecido empresarial nacional, ligação ao mundo real da indústria e capacidade de interagir e definir políticas públicas também para a área das startups.

    É um dos poucos políticos eleitos para a dream team. Conhecido por muitos como “o pai das startups”, foi ainda diretor executivo da Startup Lisboa e hoje é gestor e um speaker habitual em várias conferências.

    Tiago Pitta e Cunha seria Ministro do Mar

    “Mudar a relação do país com o oceano” tem sido o desígnio de Tiago Pitta e Cunha ao longo da sua carreira. Quando se fala em mar, quase todos se lembram de Tiago. O júri reconhece nele a capacidade de alavancar e dar palco à chamada economia azul, tão badalada em Portugal mas ainda carente de políticas e investimento público e privado à altura do desafio.

    A escolha recai sobre Tiago pelo saber acumulado, mas também pelas funções que tem desempenhado: presidente da comissão executiva da Fundação Oceano Azul, trabalha há  duas décadas em política dos oceanos, é especialista em direito europeu e internacional e foi conselheiro de Cavaco Silva.

    *Este artigo foi originalmente publicado na revista Insider de outubro, com o título Um governo (de sonho) para um Portugal Digital.