O mercado global de smartphones está saturado e tem sofrido quebras nas vendas, mas há uma categoria que está a remar contra a maré: as vendas dos chamados smartphones indestrutíveis estão a crescer 20% ao ano. Um nicho que é cada vez mais explorado também no mercado português.
O nome pode não dizer muito – a Crosscall é uma marca desconhecida da maior parte dos consumidores -, mas a empresa reforçou-se bem para atacar os novos mercados. A diretora para Portugal e Espanha, por exemplo, já trabalhou oito anos como representante da BlackBerry no mercado ibérico.
O produto que María Jesús Tamayo agora tem de vender é muito diferente. Se antes o seu público-alvo era quase exclusivamente executivos do mercado empresarial, agora são todos aqueles que gostam de fazer desporto ao ar livre, profissionais ou amadores. Porquê? Porque os equipamentos da Crosscall foram feitos para ser ‘indestrutíveis’.
O modelo de gama média, o Action X-3 [379,90 euros], já está disponível em algumas lojas e até ao final de março vão chegar também o modelo de entrada de gama [Core X3, 299,90 euros], e o modelo de topo – o Trekker X-4 que vai custar 749,90 euros.
O que têm de especial estes smartphones? O Trekker X-4, por exemplo, tem uma estrutura completamente estanque que permite mergulhar o smartphone durante uma hora até dois metros de profundidade, seja em água salgada ou doce. A capa rígida e o vidro endurecido aguentam quedas de dois metros. É ainda resistente ao pó, a salpicos e a outros elementos – ou seja, um verdadeiro tanque de guerra quando comparado com os smartphones envidraçados e frágeis que a maior parte dos consumidores têm.
No caso do Crosscall Trekker X-4, o dispositivo tem ainda integrado uma câmara de ação, tentando fazer as vezes de uma GoPro. Grava vídeo em 4K e consegue captar imagens com um ângulo de amplitude de 170 graus.
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Os smartphones da marca francesa têm também uma tecnologia proprietária chamada X-Link. Na parte traseira dos equipamentos há um pequeno círculo metálico que funciona como ligação magnética a um vasto ecossistema de acessórios – desde baterias e memórias externas, até cintos de peito ou de braço para prender o equipamento durante as atividades radicais.
“Podem ser praticantes de ciclismo, esqui, barco à vela, mas cada vez mais queremos aumentar a nossa audiência e com novos dispositivos que têm melhores designs, são mais finos, menos pesados, queremos chegar a pessoas que não querem estar preocupadas com o que acontece ao seu smartphone”, diz a responsável em entrevista à Insider.
“Tudo pronto” para o ataque ao mercado português
Os smartphones da marca – de capital 100% francês, assegura-nos a responsável – integram-se numa categoria de mercado conhecida como os rugged phones [telefones robustos, em tradução livre]. Em Portugal este mercado tem sido explorado acima de tudo pela marca CAT e por algumas marcas chinesas.
“A CAT tem dispositivos robustos, mas o design é mais grosseiro e provavelmente são mais para o sector industrial, onde a marca é mais conhecida”, explica a responsável espanhola.
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A nível global, os smartphones indestrutíveis estão a crescer 20% ao ano. Segundo dados da consultora CCS Insight, em 2017 foram vendidos 30 milhões de dispositivos desta categoria em todo o mundo, em 2018 foram 36 milhões e em 2021 serão 59 milhões.
“Penso que Portugal é semelhante a Espanha, França e Itália, faz sentido [apostar]. Se está a funcionar noutros mercados, também deve funcionar em Portugal”, adianta, sem detalhar no entanto expectativas de vendas para o mercado português até ao final do ano. “Temos a experiência de países como França ou Itália em que já estamos há mais tempo. (…) Pensamos que há uma grande oportunidade, há um crescimento de 20% que queremos explorar”.
Em bom rigor, os smartphones da Crosscall já estão disponíveis em Portugal há cerca de um ano, através de um acordo de distribuição entre a empresa francesa e a portuguesa Aveicellular. O que María Jesús Tamayo quer é ter maior presença nos grandes retalhistas – Worten, Fnac e Rádio Popular foram exemplos que deu -, assim como nos operadores de telecomunicações.
“Estou em conversações com a NOS, comecei as conversações com a Vodafone, mas nada está fechado ou definido até ao momento. Vamos trabalhar com os operadores certamente”.
Apresentar-se como uma marca ‘nova’ – a Crosscall foi fundada em 2009 – de smartphones não é fácil sobretudo num mercado que já está saturado e cujas vendas globais estão em declínio. Ao endereçar o mercado empresarial – trabalhadores de construção civil, por exemplo – e o mercado desportivo – atletas de desportos radicais -, a executiva espanhola acredita que os resultados vão chegar.
“Com os operadores vamos começar no empresarial e depois quando provarmos que faz sentido para o consumidor, em retalhistas como a Fnac e Worten, então talvez os operadores vão querer para os consumidores também”. “Não estamos necessariamente a direcionar para pessoas ricas, só porque estamos a procurar uma pessoa que vai viajar num veleiro, pode ao mesmo tempo ser um canalizador que vai compor as torneiras de alguém”.
Deu-nos o exemplo de França – o que começou com um acordo para uma única loja do operador Orange transformou-se numa presença em mais de 700 lojas nos anos seguintes. “[Em Portugal] Tudo está pronto, apenas preciso de saber as encomendas e pensar nas atividades de marketing e no treino dos funcionários das lojas”.
Questionada sobre se a Crosscall também vai marcar presença em lojas de desporto, María Jesús Tamayo diz que é uma possibilidade em estudo. “Estamos a começar a explorar isto, contudo o problema está na estrutura das margens e nos preços”, sublinha.
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