Na guerra da cloud, a inteligência artificial é a grande arma da Google

Diane Greene Google Cloud
Diane Greene, CEO da divisão Google Cloud, durante a apresentação de abertura do evento Google Cloud Next, que se realiza em Londres, no Reino Unido. Foto: Rui da Rocha Ferreira / Insider

Ferramenta de alta performance de processamento de dados BigQuery vai ficar acessível a mais empresas, pela sua chegada a centros de dados na Europa. Google aposta forte em inteligência artificial para recuperar terreno para as rivais Amazon e Microsoft.

O acaso juntou Diane Green a um desconhecido, que lhe perguntou se estava em Londres, no Reino Unido, para o evento sobre Google Cloud. Diane disse que sim. O homem disse depois que a sua empresa tinha escolhido há pouco tempo a plataforma de computação na nuvem da Google e que estava lá para aprender como usá-la da melhor forma possível.

O que esse homem não sabia é que estava a falar para a própria diretora executiva da divisão Google Cloud. Quando Diane Greene partilhou a história em palco, disse, entre risos: “Espero que essa pessoa esteja cá hoje”.

O negócio de cloud da Google continua a crescer. Uma das provas está nos próprios eventos que a empresa organiza em torno deste tópico: se há uns anos conseguia reunir, no máximo, duas mil pessoas, só no evento que está a organizar esta semana em Londres são esperados oito mil participantes.

“É o maior evento de sempre da Google na Europa”, disse Sébastien Marotte, vice-presidente do Google Cloud para a Europa, Médio Oriente e África (EMEA).

“Investimos massivamente na Europa nos últimos 12 meses. Investimos muito tempo a fazer parcerias com empresas grandes”, acrescentou. As tecnológicas Atos e Philips, a retalhista Carrefour, a Sky da área dos media e a gasolineira Total são apenas alguns exemplos. Esta aposta no ‘velho continente’ também já chegou a Portugal, como demos conta na altura.

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“A nossa missão no Google Cloud é usar o poder da nuvem e dar superpoderes à vossa empresa. Não é só sobre tecnologia, é sobre transformação de negócio”, salientou Sébastien Marotte.

Segundo um estudo da Deloitte, publicado em setembro e citado no evento, por cada euro que as empresas têm investido na plataforma de computação na nuvem da gigante norte-americana, o retorno tem sido dez vezes maior.

“O que torna o Google Cloud único? A inteligência artificial, a análise de dados e a segurança. A inteligência artificial é a grande oportunidade para todos, a cibersegurança é a maior ameaça para todos – e a Google é a melhor nestas duas áreas”, disse, de forma assertiva, Diane Greene.

IA em todo o lado

A inteligência artificial (IA), em especial a área de aprendizagem automática [machine learning], é de facto o tópico mais ‘quente’ do momento para a cloud da Google. A empresa sabe que é uma das mais avançadas do mundo na área – se não mesmo a mais avançada – e que esta é uma vantagem para recuperar terreno face à Amazon e à Microsoft na área da cloud.

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A empresa de videojogos King, mais conhecida pelo título Candy Crush, tem 270 milhões de jogadores todos os meses. “Podemos usar os dados para criar valor de negócio”, disse a vice-presidente de tecnologia da King, Åsa Bredin. Como? A tecnológica está a usar o ambiente de cloud da Google para criar jogadores virtuais, jogadores estes que depois testam de forma incansável – no final de contas são máquinas – os novos jogos da empresa.

“Treinamos jogadores virtuais para saber qual é a melhor experiência para os utilizadores. (…) É mais fácil e rápido trabalhar com os nossos dados”, reforçou.

O exemplo da King não vem por acaso. A tecnológica britânica usa um modelo misto de armazenamento e processamento de dados – além da cloud, tem a sua própria infraestrutura tecnológica de servidores [o chamado modelo híbrido]. Esta é na realidade uma tendência de mercado: segundo um estudo da empresa RightScale, publicado este ano, 80% das empresas usam um sistema híbrido ou então usam mais do que uma plataforma de cloud.

Estes perfis de utilização trazem alguns desafios, sobretudo na tentativa de fazer com que as mesmas aplicações funcionem tanto na infraestrutura própria da empresa, como nas plataformas de cloud que utilizam.

Sophie Maxwell Google Cloud
Sophie Maxwell, da Sociedade Zoológica de Londres (ZSL na sigla em inglês) falou de como a sua organização está a usar a IA da Google para reconhecer animais em fotografias tiradas nos seus habitats naturais. O resultado tem sido positivo: o algoritmo reconhece os animais e as espécies certas em 91% dos casos. Foto: Google

É aí que entra a Kubernetes da Google, uma ferramenta que na prática funciona como um ‘contentor’ para uma aplicação: como a aplicação foi desenvolvida dentro do contentor, esse contentor depois pode ser movido de forma mais simples entre diferentes ambientes de cloud.

Uma das grandes novidades apresentadas pela Google no evento em Londres foi justamente para esta área: a ferramenta Kubeflow permite executar ferramentas de aprendizagem automática em kubernetes, estejam estes ‘contentores’ na cloud ou na infraestrutura proprietária da empresa. Ou seja, a Google está a tentar eliminar as barreiras que existem para que mais empresas possam tirar partido das suas ferramentas de IA.

“A inteligência artificial vai ser a fundação da computação nos próximos 30 anos”, sublinhou Rajen Sheth, diretor de gestão de produto na gigante norte-americana.

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A Google também anunciou que a sua principal plataforma de analítica de grande escala – o BigQuery consegue ‘varrer’ um milhão de gigabytes de informação em segundos, de acordo com a tecnológica – vai agora estar disponível em mais centros de dados da empresa, sobretudo nos mercados europeus.

No centro de dados situado em Londres já vai ser possível usar esta ferramenta e nos próximos seis meses vai chegar a mais 11 localizações. “Agora mais empresas podem aplicar a aprendizagem automática aos seus dados”, referiu Rajen Sheth.

Mas neste mundo dos dados e da inteligência artificial, nem tudo precisa de ser massivo. Um dos exemplos mais curiosos de utilização de algoritmos veio da publicação britânica The Telegraph: em conjunto com os engenheiros da Google, a empresa está a criar um algoritmo que prevê o número de jornais que vão ser vendidos em cada cidade.

Por agora o sistema ainda só está a ser testado em duas cidades, mas o objetivo da publicação é bem maior. “Ajudou a reduzir o número de jornais que são devolvidos. A ambição é continuar a refinar o algoritmo ao ponto de conseguirmos fazer isto em todo o país”, adiantou um executivo da publicação.

*O jornalista viajou a convite da Google