Huawei avisa Europa e EUA: “Desconfiança deve ser baseada em factos”

Ken Hu Huawei redes 5G
Ken hu, executivo da Huawei, considera que a cibersegurança não deve ser politizada. Foto: Huawei

Apesar da pressão e desconfiança que se gerou em torno das redes 5G da gigante chinesa, empresa diz que já tem 40 contratos para a criação de redes de nova geração.

Foi a própria Huawei quem decidiu não participar no desenvolvimento de redes 5G nos EUA. A revelação foi feita por David Wang, diretor executivo da administração da empresa, que respondia assim ao bloqueio das tecnologias naquele país e também noutras nações, como a Austrália e Nova Zelândia. “Os governos e operadores farão as suas próprias escolhas”, comentou.

Num evento em Shenzhen, China, que foi muito mais focado em inovação e estratégia (HAS 2019) do que na polémica das redes 5G, os executivos da empresa acabaram por deixar alguns recados aos EUA e Europa, onde a questão tem sido mais discutida.

“É preciso estabelecer mecanismos de validação independentes para todas as empresas, acreditamos que a confiança ou a desconfiança deve ser baseada em factos, os factos devem ser verificados e a verificação deve ser baseada num standard [de indústria]“, comentou Ken Hu, o atual chairman da gigante chinesa.

“A confiança é crítica no mundo digital. Estamos a usar mais tecnologias e a partilhar mais dados, as pessoas estão mais preocupadas com a segurança das suas vidas digitais. Nós compreendemos estas preocupações, pois também estamos preocupados”, acrescentou o executivo. “Se a cibersegurança for politizada, vai ser um grande desafio. Penso que tais desafios não vão ser apenas para a Huawei, vão ser para toda a indústria e para as relações comerciais numa escala maior”.

“Pessoalmente, não penso que a cibersegurança seja um desafio político, é uma questão técnica. Como referi na minha apresentação, a posição da Huawei em cibersegurança é que é necessário adotar um quadro para identificar riscos e melhor gerir os riscos através de parcerias”.

Ken Hu considera que quando questões tecnológicas são politizadas, a discussão é feita mais com base em “sentimentos” e “longe dos factos”. “A fragmentação da tecnologia vai atrasar o seu desenvolvimento. Acredito que a fragmentação da tecnologia não vai ser um desafio só para a Huawei, vai ser para toda a indústria e sociedade”.

Em Portugal, o primeiro-ministro António Costa já disse que “não há nenhuma razão para excluir a Huawei do mercado” e do lado dos operadores também ainda não houve qualquer movimento nesse sentido. Já do lado da Huawei, a empresa diz que está disposta “a tomar medidas de segurança para aliviar qualquer preocupação”.

40 contratos já assegurados

Até ao final de março, a Huawei já tinha assegurado contratos para a criação de 40 redes 5G, revelou Ken Hu durante a sua apresentação no HAS 2019, um crescimento significativo relativamente aos 25 contratos que tinham sido anunciados em dezembro de 2018. O valor mostra que a pressão colocada sobretudo pelos EUA não afastou o interesse dos clientes nas tecnologias da Huawei.

Segundo previsões da empresa baseadas num estudo próprio, em 2025 já deverão existir 6,5 milhões de estações-base (antenas) 5G em todo o mundo e que já deverão dar cobertura a 2,8 mil milhões de utilizadores. E enquanto as redes 4G demoraram cinco anos para conseguir os primeiros 500 milhões de utilizadores, com o 5G a estimativa é que esse número seja conseguido até 2021.

“Nos últimos três anos vimos uma mudança de perceção nos operadores relativamente à tecnologia 5G. Há três anos se falasses com os operadores relativamente ao 5G, eles não tinham uma ideia clara de como seria lançado ou se traria valor ao negócio. (…) Mas desde a segunda metade do ano passado começámos a ver uma visão clara e pragmática do 5G”, sublinhou Ken Hu.

Já David Wang garantiu que a tecnologia 5G vai acabar por revelar-se 10 vezes mais eficiente do ponto de vista dos custos. “Acreditamos que com a nova geração de tecnologias vamos conseguir melhorar a experiência e o custo para operadores e utilizadores”.

* A Insider/Dinheiro Vivo viajou para Shenzhen a convite da Huawei