Huawei responde aos EUA: centro de cibersegurança em Bruxelas e processo judicial

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Centro de cibersegurança da Huawei em Bruxelas. REUTERS/Yves Herman

A guerra entre EUA e China continua ao rubro e, agora, a Huawei responde às dúvidas levantadas pelos norte-americanos sobre a segurança dos seus produtos com um centro europeu e um processo para contestar a proibição da marca nos EUA.

É mais um capítulo da já longa guerra de palavras e de acusações entre o governo norte-americano e a marca chinesa Huawei. Os EUA garante que a Huawei representa uma ameaça à sua segurança nacional e, ainda a semana passada, esteve em Portugal a alertar o governo nacional “para o perigo de usar nas suas infraestruturas de 5G produtos de marcas chinesas” (falámos inclusive com o embaixador dos EUA e com o chairman do FCC sobre o tema).

A gigante de bens de consumo e telecomunicações chinesa responde agora com dois anúncios diferentes, mas que acabam por ter relação entre si e constituírem mais uma tentativa da empresa em limpar a sua imagem e garantir o mais importante, confiança e segurança na utilização dos seus produtos – neste caso o que está mais em foco é a infraestrutura de redes. A Huawei abriu assim as portas do seu novo Centro de Transparência de Segurança Cibernética, em Bruxelas, esta terça-feira.

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“A confiança precisa ser baseada em factos, factos que devem ser verificados ​​e a verificação deve ser baseada em padrões standard”, disse o vice-presidente Ken Hu a representantes da UE e do Fórum Económico Mundial presentes na inauguração, acrescentando: “acreditamos que este é um modelo eficaz para construir confiança para a era digital”.

Umas horas antes já tinha sido revelada a notícia que a Huawei está a preparar um processo judicial contra o governo dos Estados Unidos, alegando que foi injustamente proibida de vender equipamentos para todas as instituições federais do país (a ordem executiva partiu do próprio Donald Trump, que tem intensificado uma guerra comercial e de taxas entre os dois países). As autoridades norte-americanos acusam há vários meses a empresa de ter equipamentos que estão “potencialmente comprometidos” pelo governo chinês.

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A governo dos EUA voltou a fazer essas mesmas acusações em reuniões com operadores e autoridades de vários países na feira Mobile World Congress, em Barcelona, e, uns dias depois, veio mesmo a Portugal fazer as mesmas acusações. As autoridades norte-americanos estão, assim, deliberadamente a fazer lobby para que os países seus aliados e as operadoras globais de telecomunicações evitem a empresa, apesar das críticas de que não têm sido mostrados factos evidentes de segurança comprometida nessas acusações.

Apesar das pressões, o Reino Unido e a Alemanha, importantes aliados dos EUA, continuam a ter centros da Huawei e não dar sinais de que vão cortar os laços com a empresa que está, inclusive, a prometer construir a primeira estação ferroviária 5G do mundo. No caso do Reino Unido, a autoridade de telecomunicações do país garante que há formas de contornar as possíveis questões de segurança sem banir os produtos da Huawei e a Alemanha já explicou que não tem motivos para expulsar legalmente a Huawei do país.

De acordo com a Associated Press, o laboratório de segurança cibernética “será uma plataforma onde agências governamentais, especialistas técnicos, associações industriais e organizações de referência podem colaborar em segurança cibernética”, permitindo também que clientes e empresas de internet testem equipamentos de rede da Huawei.

A Huawei continua a refutar as acusações dos EUA e também se ofereceu para abrir uma instalação de testes de segurança na Polónia, algo que será difícil de acontecer, já que as autoridades polacas prenderam um funcionário chinês da Huawei por alegações de espionagem em janeiro. A CFO da Huawei, Meng Wanzhou, também está detida no Canadá desde dezembro, a pedido dos EUA, que alega fraude bancária e incumprimento de sanções dos EUA ao Irão. Wanzhou, filha do fundador da Huawei, vai processar as autoridades canadianas pela detenção, mas ficou recentemente a saber que irá ser extraditada para os EUA.

A Huawei disse já esta semana que continua determinada em trazer para Portugal a tecnologia 5G, ajudando os operadores (neste momento há um acordo que ainda não está em fase de contrato fechado, com a Altice) com equipamentos para a implementação da tecnologia que promete melhorar o uso geral da internet.

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