Começou a jogar aos 13 anos, por influência do irmão e porque achava divertido. Onze anos depois, Marcelo David é uma verdadeira máquina de rato e teclado na mão e ganha, por mês, dezenas de milhares de euros.
Quando disse aos pais que queria deixar a universidade para ser jogador profissional de videojogos, a reação foi difícil. “Os meus pais têm uma empresa e o meu pai sempre quis que eu estivesse lá com ele, não queria que me afastasse, queria que trabalhássemos juntos. Para o meu pai foi mais difícil, para a minha mãe foi mais tranquilo”, conta-nos Marcelo David.
Este é o nome pelo qual o brasileiro é conhecido junto de amigos e família, mas não junto das suas dezenas de milhares de fãs. No mundo dos desportos eletrónicos (eSports), mais em concreto no jogo de tiros e estratégia Counter Strike: Global Offensive (CS:GO), é conhecido como “coldzera”.
O jovem de 24 anos é, para muitos, o melhor jogador de sempre desta modalidade de eSports: o pragmatismo, o calculismo dos seus tiros e a capacidade de ter rondas endiabradas em que elimina vários adversários de seguida são algumas das suas imagens de marca.
Para a publicação especializada Sportskeeda, Coldzera é o melhor jogador de sempre. Já o HLTV, o maior e mais influente site do mundo sobre CS:GO, coroou o brasileiro como o melhor do mundo em 2016 e 2017. A época de 2018 não lhe correu tão bem – é o próprio quem o admite -, mas o desempenho que teve deverá ser suficiente para Coldzera voltar a conseguir um lugar entre os dez melhores do mundo.
Quando falou com os progenitores ainda não tinha o currículo que tem, mas usou o seu talento para convencer, de vez, o seu pai quanto ao futuro que queria seguir. “Convidei-o para ver o meu primeiro grande campeonato [em 2016], paguei a viagem dele e tudo. Nós ganhámos. Depois disso acabou”, confidencia.
Atualmente a jogar pela equipa brasileira MIBR, quando está em modo de grandes campeonatos internacionais, Marcelo “coldzera” David chega a treinar entre dez a onze horas por dia, uma carga que ainda tem de conjugar com outros aspetos de ser um atleta profissional.
“Muitas pessoas dizem a brincar que os desportos eletrónicos são um jogo para crianças, mas cara, temos uma rotina superintensiva. É pior do que um trabalho, jogamos 11 horas sem parar, temos toda a parte tática, a parte psicológica, a boa alimentação, a ida ao ginásio, treino tático e treino prático. É muito intensivo e cansativo”.
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O brasileiro, natural de São Paulo, reconhece que ainda existe algum preconceito relativamente aos desportos eletrónicos, mas também diz que esta é uma barreira que está a “desaparecer aos poucos”. E muito deve-se ao dinheiro que esta profissão movimenta.
Marcelo “coldzera” David revelou-nos que os melhores jogadores do mundo têm ordenados que variam entre 8.500 e os 15.500 euros – isto sem contar com a percentagem que cada atleta ganha por cada competição vencida pela sua equipa. Há torneios de CS:GO nos quais as equipas vencedoras levam um milhão de euros para casa.
“No começo não sabia se ia dar certo, porque o começo foi um ano em que batalhámos muito. Tudo na vida é uma questão de risco. Tens que arriscar algumas vezes e pagar para saber se vai dar certo ou não. Se não desse certo, pelo menos teria arriscado e teria ficado contente com o que fiz”.
A indústria dos desportos eletrónicos movimenta cada vez mais e mais dinheiro. Segundo a consultora Newzoo, este é um mercado que já vai valer 905 milhões de dólares em 2018, um crescimento de 38% em comparação com o ano anterior.
Estima também que em 2020 já seja um mercado de 1,4 mil milhões de dólares, um valor muito superior ao de várias modalidades desportivas ‘tradicionais’. Só este ano, 380 milhões de pessoas viram uma transmissão de um grande evento de eSports.
O fenómeno está, aos poucos, a chegar também a Portugal: além do interesse de um cada vez maior número de marcas, Lisboa tornou-se recentemente casa para um dos maiores torneios internacionais de CS:GO, naquele que foi um investimento de 1,5 milhões de euros feito pela empresa dinamarquesa RFRSH.
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Mas o dinheiro não é tudo. Apesar de parecer que são só pessoas a jogar jogos de computador, ser atleta de eSports é uma profissão desgastante: pelas lesões, pelas viagens constantes e pela dedicação que é preciso ter para estar sempre no topo. [Pode ler uma reportagem mais completa sobre a vida louca dos atletas de eSports na edição de dezembro de 2018 da revista Insider].
Não é por isso de estranhar que vários atletas se reformem quando chegam aos 27 ou 28 anos. É também até essa idade que Coldzera pretende jogar – depois disso ou passa para a carreira de treinador ou vai então dar uma alegria ao pai e trabalhar com ele na empresa.
“Tudo na vida é um risco, se não corrermos riscos, nunca sabemos onde podemos chegar e até onde podemos ser testados”.
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