Quando já se ligou mais de dois mil milhões de utilizadores, o que se segue? Aponta-se o alvo e procura-se o próximo milhar de milhão. O Facebook tem novos planos para ligar o mundo à rede social e à internet.
A questão é que ninguém disse que este processo seria fácil – e o Facebook que o diga. É justamente esse que é o outro lado da rede social, um lado que vai além das novas funcionalidades no Messenger ou dos posts. Em linhas gerais, há duas velocidades naquilo que diz respeito ao mundo global de acesso à Internet – e é aí que está um dos maiores desafios do Facebook: como é que se conjuga estes dois mundos?
De um lado, os países habitualmente referidos como desenvolvidos, onde a próxima grande tendência de ligação à rede está a alguns passos do 5G; do outro lado – e é justamente aí que pode estar o próximo filão de utilizadores da rede social -, os países em desenvolvimento, com áreas onde a ligação 2G ainda é vista como uma miragem.
A missão de qualquer rede social passa pela palavra ligação – mas como é que se liga quem não tem possibilidades de acesso? Cria-se uma comunidade para ajudar a pensar na questão e debater a criação de infraestruturas de rede.
Foi isso que o Facebook fez, em 2016, ao anunciar um projeto chamado TIP, uma sigla para Telecom Infra Project, onde a rede social assume uma figura de proa. Juntando operadores de telecomunicações, tecnológicas e startups para dar acesso à internet a quem ainda não tem. Quantos mais estiverem ligados, maior é o número de utilizadores passíveis de conquistar.
“Se damos mais rede, vemos o comportamento das pessoas mudar – fazem mais chamadas de vídeo, partilham mais vídeos” – Yael Maguire, vice-presidente de conectividade do Facebook
Anualmente, há um evento, chamado TIP Summit, onde o Facebook reúne a comunidade e fazem-se pontos de situação sobre os projetos da área, mostrando um lado do Facebook menos conhecido.
Colaborar sim, competir não
É fácil que, numa conferência sobre telecomunicações, se caia na tentação de pensar “e se o Facebook se transformasse num operador de telecomunicações…?”. Jay Parikh, VP de engenharia de infraestrutura do Facebook, desmistifica esta questão: “Não é o core e não é o nosso ponto forte. Não há interesse em sermos um operador, queremos sim trabalhar com parceiros para desenvolver a indústria.”
Yael Maguire, VP de conectividade, também apoia o discurso: “Queremos trabalhar juntos [com operadores], não temos intenção de ser um operador mobile.”
O reinado do vídeo
Primeiro vieram os posts em texto, mais tarde a partilha de imagens e agora o vídeo é quase rei e senhor do Facebook. Se inicialmente bastava um vídeo habitual, agora há novos formatos: 4K, vídeo 360º… e isso tudo consome rede, além de precisar de determinados standards de velocidade para funcionar.
“Um Live precisa de 12 mbps e são precisos 25mbps estáveis para Netflix e vídeo em 4K. Para realidade virtual? 600 mbps.” Por isso, se houver boas capacidades de ligação, maior é a oportunidade de expansão para o Facebook, lógico. “Não há limite para o interesse das pessoas na rede – se lhe dermos mais capacidade [de rede], vemos o comportamento delas mudar – fazem mais chamadas de vídeo, partilham mais vídeos… É semelhante à lógica do espaço no telefone ou no computador”, aponta Maguire.
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O projeto Terragraph é uma das bandeiras da comunidade TIP, estando virado para áreas urbanas. As pessoas têm cada vez mais gadgets com necessidade de ligação – e, sem internet, alguns não passam de pisa-papéis. “É ótimo que as pessoas consigam estar online, mas têm de partilhar as coisas”, diz Yael Maguire à DN Insider, exemplificando que o aumento das necessidades de ligação está, em alguns casos, a causar decréscimos notórios na velocidade de ligação.
“A densificação das redes é algo que é importante, é um grande desafio que temos de aprender a resolver enquanto indústria.” Sem levantar grandes ondas, o Facebook tem vindo a testar unidades do Terragraph no terreno. Uma área semiurbana, Mikebuda, na Hungria, está a utilizar esta tecnologia de ligação, que pretende ser mais barata e rápida na hora de instalação.
“O modelo de torre para difundir sinal vai alterar-se. A lógica das unidades urbanas vai implicar mudanças – e muitas delas a nível económico”, diz Maguire.
Questionado sobre o tamanho da equipa de conectividade, redireciona a pergunta, apontando que se trata de uma “equipa multidisciplinar”, não é um projeto isolado no universo do Facebook. Aliás, a tecnologia desenvolvida “em casa é aplicada no processo de planeamento das ligações Terragraph: a visão computacional desenvolvida pelo Facebook ajuda em vários passos do projeto.
* Este artigo foi originalmente publicado na edição de outubro de 2018 da revista Insider