Robótica em Portugal: “Olá, sou um robô, estou aqui para mudar a sua vida”

Reportagem ao coração da robótica em Portugal. Na era da robótica associada a sistemas cada vez mais inteligentes, damos a conhecer alguns dos projetos de robôs ‘made in portugal’ mais entusiasmantes, da interação com crianças e seniores, aos robôs submarinos. Falamos ainda do futuro com a ajuda de especialistas.

Numa pequena sala, na área restrita da Web Summit, estamos ao lado de uma coluna que no seu topo tem uma cabeça-robô, desligada. Mal a ligam, o que parecia um manequim de loja, ganha vida e uma cara humana projetada num plástico peculiar com feições humanas, movimentando a cabeça na direção de quem fala e com uma face com expressões e feições como se estivéssemos ao lado de um humano.

Mesmo quando não estamos a olhar para o robô sueco Furhat, assustamo-nos um pouco ao sentir os seus movimentos, como se fosse uma criança em busca de atenção. Horas antes, o mesmo robô, levou centenas de pessoas no palco AutoTech/TalkRobot a ‘lutarem’ pelo melhor vídeo e a melhor foto, na apresentação mundial da versão comercial do robô social (custa 12 mil euros para universidades e o aluguer é de dois mil por mês) que quer ser solução como assistente de loja ou aeroporto e professor de línguas.

O sonho dos robôs há muito que está imaginado. O cinema tratou de nos dar muitas hipóteses, robôs bons, maus e assim assim, da luz bizarra e faladora do computador HAL 9000, do filme 2001 Odisseia no Espaço, até à forma humana igual a nós vista em Alien ou AI – Inteligência Artificial. Não faltam filmes com e sobre robôs, inclusive aquele onde eles querem acabar com todos nós (e alguns salvarem-nos), como Exterminador Implacável.

Ficção científica à parte, a realidade tem demorado um pouco mais a acompanhar os devaneios da Sétima Arte. Nos últimos anos a inteligência artificial (AI) voltou a prometer mundos e fundos, isso e a vaticinar a perda de empregos. Chadwick Xu, CEO da Shenzhen Valley Ventures e fundador da Zowee (responsável por 70% da produção da Xiaomi e de outras empresas) disse na Web Summit que, em 2030, cerca de 80% dos empregos vão passar a ser feitos por robôs.

“A inteligência artificial e a robótica são uma tendência incrível ou um rio de que todos fazer parte”, antevê o responsável, que não teria problemas em ser operado por um robô dentista que foi lançado o ano passado na China: “A IA veio mudar tudo e os robôs já podem ser melhores que os humanos e ser bem mais precisos.”

Mas que robôs? Desses há muitos. Hoje já se fala mais em carros-robôs, também há robôs barcos, submarinos, corta-relvas, drones, de secretária e limpa matas, inclusive feitos em Portugal, como veremos mais à frente, e há também robôs cozinheiros ou sexuais. A presença cada vez maior de robôs e inteligência artificial no dia a dia pode trazer, no futuro, consequências não só no emprego, mas também na forma de vivermos em sociedade. A série Black Mirror tem-se revelado inovadora na hora de refletir de forma preocupante sobre as questões éticas e sociais da nova era que se está a instalar.

O sírio Samer Al Moubayed, CEO da empresa sueca Furhat Robotics, que nasceu a partir da universidade de Estocolmo e teve como primeiro cliente a Disney, quer ver robôs em todo o lado na próxima década. “O potencial é enorme”, diz, admitindo que “há apenas quatro anos seria impossível fazer o que conseguimos fazer hoje com o Furhat, incluindo fazer dele professor de línguas”. O sírio de 36 anos, há 11 na Suécia, espera que “um robô social seja como um portátil ou um smartphone, frequente e um acrescento ao ser humano, “primeiro aplicado por empresas, depois em escolas, clínicas, supermercados e na casa de cada um”.

Opinião semelhante tem José Santos-Victor, presidente do departamento de robótica (IRS) do Instituto Superior Técnico. “Vamos partilhar o nosso dia a dia com robôs, tal como o fazemos já com os smartphones”. Os robôs de assistência, fornecimento de informação, limpeza, vigilância, entre outros, “deverão estar disponíveis e trabalhar juntamente com as pessoas”. O responsável está ainda curioso, para ver a “mudança substancial na mobilidade” com o desenvolvimento dos carros autónomos, para os quais por cá existem projetos na Universidade de Aveiro, no centro CEiiA e na Bosch Portugal.

No mesmo evento onde vimos Furhat, esteve a famosa robô Sophia que voltou a atrair as atenções. O seu ‘pai’, Ben Goertzel, admitiu-nos que o nível de inteligência da sua menina ainda está longe dos humanos, daí ter criado uma plataforma de programação para robôs na cloud, a SingularityNET, para que outros possam contribuir.

Paulo Alvito, CEO e CTO da empresa nacional IDMind, elogia a mecânica “interessante” de Sophia, feita pela Hanson Robotics – tem inclusive um pequeno robô humanóide no escritório que é deles –, “mas a nível de inteligência não é mais do que um dispositivo ligado à cloud, nem faz muito mais do que uma coluna com a Alexa”. “O reconhecimento de voz em robôs móveis é muito difícil, eles produzem ruído e no espaço público há barulho”, por isso há muitos exemplos onde há alguém “atrás da cortina” ou são só “para investidor ver”. A mesma opinião tem o especialista em robótica e fundador da iRobot (dos aspiradores) Rodney Brooks‏, que disse recentemente no Twitter que Sophia é um “fantoche” e quando fala “não está a dar a sua opinião”.

IDMind (Diana Quintela/ Global Imagens)

IDMind: robôs sociais à medida

Os robôs sociais servem para interagir com humanos. Paulo Alvito era investigador do Técnico nos anos 1990 e criou com dois colegas a IDMind em 2000, depois de terem ficado entusiasmados com um projeto de criar um pequeno kit robótico (com rodas) que as escolas pudessem usar e ensinar as crianças a programar. O seu negócio hoje são robôs à medida e com aspeto que o cliente deseja, a maioria sociais. Com uma equipa de 10 pessoas, entrar nos seus escritórios, no Pólo Tecnológico de Lisboa, tem vários motivos de interesse. Na sala principal vemos parte do robô Raposa, um antigo projeto com o Técnico e os Bombeiros Sapadores de Lisboa, para entrar em edifícios em risco de ruir.

O projeto Monarch trouxe alguma fama, ao criarem o peculiar e interativo robô Mbot, que é perfeitamente autónomo, interage com as pessoas e joga jogos. Um desses robôs chama-se Viva e acolhe todos os dias os visitantes do Pavilhão do Conhecimento. Outro está no IPO de Lisboa. Já fizeram robôs para acolher pessoas no banco brasileiro Bradesco e no banco Santander, na sua sede em Madrid. Um dos projetos mais recentes foi um robô de transporte hospitalar para a Fundação Champalimaud, que transporta medicamentos da farmácia para o hospital e “poupa horas de viagens a um ser humano”. “Para um robô ser mesmo autónomo e saber para onde está a ir, tem de haver mapeamento do espaço, senão está só a vaguear”, diz o responsável que não prescinde da revolucionária impressora 3D no seu laboratório para fazer carcaças e pequenas peças.

Têm ainda um projeto a pensar no espaço ainda secreto e uma parceria com a japonesa Honda, para fazer a parte mecânica do robô de secretária Haru, a fazer lembrar o robô Wall-E do filme da Pixar – a Honda descontinuou recentemente o seu robô humanóide Asimo, que chegou a dançar com Barack Obama. “No futuro, o nosso próprio computador vai-se mexer”, antevê Paulo Alvito.

Variedade reina no Técnico

O Instituto Superior Técnico, no seu Instituto de Sistemas e Robótica (ISR), tem alguns dos robôs mais entusiasmantes do país. Além de projetos na área da saúde, há também na robótica submarina, onde o Medusa Deep Sea pode mergulhar até 3 mil metros de profundidade e funciona como batedor de terreno. Há ainda projetos de robótica aérea e cognitiva e em sistemas de visão e vigilância. Um dos mais relevantes e importantes é o iCub. Este pequeno robô humanóide parece uma criança pequena é desenvolvido pela RobotCub Consortium, da qual faz parte do IRS e cujo objetivo é entender como funciona a consciência humana, num dos projetos mais relevantes a nível mundial na área. O iCub aprende por demonstração.

Na nossa passagem pelo ISR, conhecemos de perto dois robôs sociais com tarefas nobres (com investimento da CMU Portugal – parceria com a Carnegie Mellon University, dos EUA). Na Torre Norte do Técnico, no sétimo piso e com uma vista impressionante sobre Lisboa, conhecemos o Vizzy, um simpático personal trainer de seniores. A nossa fotógrafa rendeu-se (com sorrisos e festas) ao pequeno humanóide que avisa desde logo: “não faço tarefas domésticas”. Desenhado, montado e programado por ali, Alexandre Bernardino, professor e investigador admite que o Vizzy ainda não está totalmente automatizado nem pronto para a comercialização. Mas os robôs com cara fazem a diferença, “as pessoas sentem-se logo ligadas a ele”. O Vizzy, que até página do Facebook tem e já cumprimentou o presidente da República, foi testado em lares da 3ª idade (onde convidava pessoas a jogar jogos com ele), com resultados superiores em relação aos terapeutas, em questões de amigabilidade, dinâmica de grupo e competência na execução de tarefas.

Mais recente é o PEPE, integrado no projeto AHA (Aumented Human Assistant), com meio milhão de euros de investimento. Embora não tenha cara, fala, é móvel e tem um ecrã interativo, sensores e um projetor de realidade aumentada apontado para o chão, que é o que permite por os idosos a jogar e a fazer exercício. Foi testado em centros de dia, ginásios de seniores e no Campus Neurológico de Torres Vedras, em doentes com Parkinson. Os resultados mostram uma grande motivação em jogar e fazer os exercícios, que passados três meses não desvanece. “Além dos jogos reforçarem a componente física, notámos que os níveis cognitivos das pessoas melhoraram”, admite Alexandre.

Comercializar este “produto global” é possível e a estimativa atual de custo é de 10 a 12 mil euros. Existe já um parceiro interessado para desenvolver o PEPE e está a ser estudado um modelo de negócio.

Ser alimentado por um robô

Na mesma torre do Técnico, no oitavo piso, está a ser desenvolvido o chamado Feedbot, um robô-braço que serve para alimentar pessoas, de forma inteligente e adaptável às necessidades de cada um. Um projeto acarinhado pela investigadora a brilhar nos EUA, Manuela Veloso, e desenvolvido pelo investigador Manuel Marques. O Feedbot serve pessoas como o próprio investigador, com mobilidade reduzida, que tem estado toda a vida dependente primeiro dos pais, agora de colegas, para se alimentar. “O Manuel tem dos melhores cérebros-cientistas que conheço, é o nosso Stephen Hawking”, diz a sorridente investigadora.

O projeto foi financiado no início do ano pela Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT) com 100 mil euros e já há progressos aliciantes usando uma câmara XBox 360 e um braço robótico trabalhado também na CMU, em Pittsburg, entre o jovem Alexandre Candeias e um dos estudantes de Manuela Veloso, Travers Rhodes.

Manuel Marques faz questão de nos dizer que o braço robótico não é só para ele: “Serve os vários tipos de pessoas com mobilidade reduzida, inclusive idosos”. Manuela Veloso vê neste tipo de projetos “um impacto direto na sociedade, não só em pessoas de mobilidade reduzida como o Manuel, que ganham auto-estima por não precisarem de pedir a um colega para os alimentar, como em lares onde os assistentes gastam muito tempo a alimentar os idosos”.

A investigadora responsável pelos Cobots CMU, robôs colaborativos, lidera ainda nessa universidade que fica em Pittsburg, um projeto em parceria com a Sony, iniciado este ano, para por robôs a preparar comida, com resultados surpreendentes, ao ponto da Sony querer criar todo um laboratório na CMU só para a chamada Food Robotics. “Há uma febre agora pelos robôs de comida nos EUA e no Japão, que não existia há dois anos”, explica Manuela, dando o exemplo de restaurantes com robôs a fazerem hambúrgueres ou saladas, que já estão ativos nos EUA e na China – este ano já há exemplos de robôs que servem mais de uma centena de cafés por hora. “Bom mesmo era que esta corrida ajudasse a acabar com a fome no mundo”.


Francisco Saraiva Melo, é professor do Técnico e investigador do INESC-ID ( Sara Matos / Global Imagens )

Robôs para crianças autistas

Viajamos de Lisboa, para o pólo do Técnico em Oeiras para conhecer outro robô social, o Astro, desenvolvido a nível mecânico pela empresa portuguesa IDMind. O projeto chama-se Inside, envolve outras universidades (incluindo o programa CMU Portugal) e serve para desenvolver robôs que prestam apoio terapêutico a crianças com autismo.

O seu responsável, Francisco Saraiva Melo, é professor do Técnico e investigador do INESC-ID e está interessado acima de tudo em perceber a evolução da interação entre robôs e humanos. O Astro foi testado já este ano durante um mês no Hospital Garcia da Horta, em Lisboa, em sessões de terapia com crianças com autismo com resultados surpreendentes, com crianças a aprenderem melhor a interagir e pedir ajuda com o previsível robô do que com humanos. Também chegaram a fazer um estudo semelhante com o pequeno robô humanóide de 58 cm NAO, da gigante chinesa Softbank, e viram crianças com problemas em se relacionar e tocar em humanos, a imitarem o robô e a tocarem nele. A Sofbank, a dona atual da Boston Dynamics e da francesa Aldebaran Robotics e que tem 30% do gigante Alibaba, vendeu 10 mil robôs NAO entre 2015 e 2017 e tem também o irmão maior, Pepper, que já deu palestras este ano no Parlamento britânico e foi contratado como cicerone da câmara municipal de Paris.

No mesmo espaço do Técnico de Oeiras vimos ainda dois pequenos robôs-caras que interagem fazendo caretas e que se chamam EMYS (foram usados para jogar jogos com idosos) e, ainda, o gigante robô industrial que interage bem com humanos, Baxter. Para Francisco Saraiva Melo, “a maioria das pessoas liga-se com facilidade aos robôs, são viciantes”. O investigador admite que “não são os robôs, mas sim a inteligência artificial por trás deles que pode superar os humanos na execução de tarefas e, isso, coloca muitas questões sociais e éticas”. Francisco acredita que há medida que há mais robôs a fazerem funções profissionais, “mais empregos inéditos vão aparecer e a sociedade vai-se adaptando ao novo caminho”.

Na era das tarefas feitas por robôs, também há empresas de robótica a fecharem

A 380 km de Oeiras, na Universidade do Minho, há também um projeto de robótica afetiva com crianças com autismo que já passou a fase de testes. O robô Zeca foi pioneiro em Portugal e testado em escolas e clínicas de Braga, Porto e Aveiro. O robô em si é o pequeno modelo Zeno R50, da Hanson Robotics, com aspeto humanoide que replica expressões faciais como contente ou triste. O financiamento já acabou, mas continuam a trabalhar com crianças no âmbito de dissertações, até porque os resultados obtidos mostraram vantagens na sua utilização. O objetivo, que não passa pela comercialização, é o de “adaptar, de forma automática, o comportamento do robô ao desempenho da criança durante a intervenção, utilizando técnicas de machine learning”, diz-nos a investigadora Filomena Soares.

Ainda nos robôs sociais, na Universidade de Coimbra também foi desenvolvido (com um parceiro holandês) um projeto de apoio a idosos. O robô social Grow Me Up foi testado durante três anos, até há alguns meses, na Caritas Diocesana de Coimbra. “Os resultados e a adesão dos participantes foram entusiasmantes e percebemos que os robôs ajudam a manter uma boa atividade cognitiva”, explica Jorge Dias, coordenador do projeto que “está agora em fase de exploração pelas entidades de apoio a idosos”. O responsável destaca ainda o trabalho que o Instituto de Sistemas e Robótica de Coimbra está a fazer para criar robôs que nos suportam na vigilância e na sustentabilidade do ambiente, os ECOBOTS.

“Robô, segue-me”

A necessidade cria a oportunidade. Se o investigador Manuel Marques precisa de ajuda para comer e criou um robô para ajudar pessoas nessa tarefa fulcral, o jovem Luís de Matos, que se desloca numa cadeira de rodas, criou tecnologia para ter, por exemplo, o carrinho de compras a segui-lo. O agora CEO e fundador da startup Follow Inspiration, desenvolveu primeiro a ideia na Universidade da Beira Interior e, depois, criou, em 2012, a empresa que começou no Fundão e está hoje incubada no centro de desenvolvimento CEiiA. Foi assim que nasceu o Wiigo, um carrinho de compras autónomo para ajudar as pessoas com mobilidade reduzida, testado pela Sonae nos supermercados do Continente.

A empresa tem novos projetos, mas continua a usar o conceito do robô que faz reconhecimento corporal através de reconhecimento de imagem e, depois, “segue a pessoa como se fosse um animal de estimação fiel”, diz-nos Luís de Matos. A Follow Inspiration cresceu e produz robôs para logística e indústria e tem agora o robô Curator, numa parceria com a Altice. Trata-se de um robô social para ativação de marca e marketing, serviços de atendimento e suporte, check-in e check-out, além de poder navegar de forma autónoma num espaço e que poder ser guia em museus ou eventos.

Dos jogadores da RoboCup aos corta-relvas

O investigador da Universidade de Aveiro, Nuno Lau, é um dos vice-presidentes da Sociedade Portuguesa de Robótica e destaca-nos a participação portuguesa relevante na RoboCup, a maior competição mundial de robôs, em que participam algumas das melhores universidades. A equipa Cambada, da Universidade de Aveiro, foi já campeã do mundo e treina num campo de futebol robótico com cerca de 12mx18m único no país. “Portugal tem também uma participação relevante em projetos europeus com ligação à robótica que tiveram financiamento de cerca de 56 milhões de euros, a maioria nos últimos três anos”, diz o investigador que destaca o Instituto Superior Técnico e o INESC TEC, do Porto, como os que mais investimento angariaram. Há ainda desenvolvimentos na investigação em condução autónoma entre a Universidade de Aveiro, Bosch Portugal e no centro CEiiA.

Entretanto surgiram empresas surpreendentes como a famosa Tekever (de ex-alunos do Técnico), com projetos de aviação autónoma e robótica submarina ou a OceanScan, que nasceu a partir da Universidade do Porto, já com um minisubmarino portátil à venda. A Turflynx, do CEO Marco Barbosa e sediada em Santo Estevão (Benavente), vende para todo o mundo robôs corta-relvas. No campo da viticultura, a Symington está a testar numa das suas quintas no Douro o robô VineScout, capaz de fazer medições de parâmetros chave da vinha e dar aos vitivinicultores informações sobre a produção.

O INESC TEC, da Universidade do Porto, tem projetos em áreas peculiares. O Informat é um robô semi-autónomo para limpar florestas (importante para evitar incêndios), através de recolha de vegetação, que será testado no próximo ano em ambiente real. Têm ainda, entre outros, o Sunny, um projeto internacional com custo de 13,9 milhões de euros, que mais não é do que um robô-drone que patrulha fronteiras e permite responder a questões relacionadas com o ambiente marítimo. E foram eles que cederam um robô-submarino que mapeia o fundo de minas para ajudar após o incidente na Pedreira de Borba.

Noutra área e sem tecnologia nacional, uma pequena robô-foca criada no Japão e que reage quando lhe dão festas ou falam para ela, está a ser testada desde o início do ano na Casa de Saúde da Idanha, em Belas, Sintra, como ferramenta para entreter e estimular pessoas com demência.

A Nova de Lisboa no Monte da Caparica tem um projeto de 1,7 milhões de euros para a Casa da Moeda. O objetivo? Estão a construir dois robôs-veículos para levar passaportes e cartões do cidadão dentro da instituição e um armazenador automatizado que lê os documentos e os organiza por zonas do país, o que irá trazer uma eficiência (sem mão humana) sem paralelo.

Casa da Moeda está a criar ecossistema de robôs feito na Nova de Lisboa

Robôs da indústria 4.0 ao estilo luso

A Introsys nasceu do sonho, na verdade foi de uma conversa durante um jogo de snooker em 2002, dos irmãos Nuno e Luís Flores (filhos de Moita Flores). Queriam construir robôs móveis terrestres e tiveram, o Introbot, que além de fazer desminagem, operava em catástrofes ambientais. “Era uma boa ideia, ainda é utilizada por universidades, mas não resultou a nível comercial”, admite Nuno Flores, o CEO.

CEO da Introsys, Nuno Flores
( Pedro Rocha / Global Imagens )

O seu negócio atingiu os 240 colaboradores e 20 milhões de faturação em 2017, a fazer o cérebro inovador de mais de 3000 robôs variados das fábricas de automóveis da Volkswagen, BMW e Mercedes por todo o mundo. Agora adaptam e programam os robôs de outros (usam vários da multinacional Kuka), que soldam, colam e constroem a carroçaria consolidada dos automóveis. Do Introbot usaram o sistema de visão artificial para fiscalizar perímetros de segurança e colocara-no num sistema de inspeção de qualidade em fábrica, neste caso, na AutoEuropa. Um processo baseado na visão qualitativa que permite perceber se certos materiais foram bem colados – caso contrário é dado um alerta –, algo que poupa muitos euros no processo da AutoEuropa.

Estão ainda a coordenar um projeto da União Europeia chamado OpenMos, para criar linguagem universal entre fábricas para um sistema operativo comum, integrando robótica móvel e inteligência artificial. Já em 2019 vão abrir nas suas instalações um Hub de Inovação Digital, para partilhar conhecimento com instituições de ensino. A maior preocupação neste momento de Nuno Flores? A falta de engenheiros para tantas necessidades.

Numa esfera internacional, a Amazon neste período de Natal e pela primeira vez, vai ter tantos trabalhadores temporários quanto robôs (100 mil de cada) para tratar do aumento de encomendas, reduzindo assim as contratações de humanos. A gigante norte-americana, dizem os especialistas, deve investir em breve na produção de robótica própria. Já a Google, depois de ter desinvestido na robótica e ter vendido empresas como a Boston Dynamics, dizem os boatos vai fazer nova tentativa na criação de robôs.

Robôs vão substituir os humanos? Nem por isso, indica novo estudo

Em Portugal, os CTT, em Lisboa, no Centro de Distribuição e Logística do Sul, também usam já alguns robôs para as operações em armazém. O braço robótico da empresa Kuka tem capacidade para tratar mais de 95 mil objetos (encomendas) por dia, encomendas essas que chegam transportadas por robôs móveis cooperativos com capacidade de movimentação e deteção de obstáculos, para a movimentação das cargas.

Entre robôs sociais, submarinos, voadores ou com funções mais físicas ou industriais, a robótica está bem e recomenda-se, até ao momento. Os especialistas, tal como a sociedade em geral, esperam agora pelas cenas dos próximos capítulos.

* Este artigo foi originalmente publicado na edição de novembro de 2018 da revista DN Insider